A energia elétrica produzida pelos ventos (energia eólica) não usa combustíveis (como carvão, gás e outros derivados de petróleo queimados nas termoelétricas). Dispensa despesas com bloqueio de áreas e construção de reservatórios, como nas hidrelétricas. E não precisa de enormes linhas de transmissão porque pode ser instalada em áreas próximas dos centros de consumo. Mas, se é assim, por que é tão cara?
Por praticamente todos os parâmetros pelos quais se analisa, o leilão de venda de energia eólica, o primeiro no Brasil, foi um sucesso. Assegurou o preço médio do megawatt/hora (MWh) de R$ 148, ou 21% mais baixo do que o preço-teto fixado pelo governo. Esse valor já é equivalente ao custo de produção de energia térmica a partir do carvão nacional ou da biomassa. Dá até para se desconfiar de que poderá acontecer com os fornecedores de energia eólica o que já houve com alguns produtores de biodiesel: não serão capazes de entregar o produto aos preços contratados.
Mas, afinal, por que a energia produzida pelo vento é tão cara?
Em primeiro lugar, porque não é possível gerar energia correspondente a 100% da capacidade instalada. Ventos fracos ou inexistentes derrubam a produção assegurada à média de 40%. E isso significa que o custo do capital tem de ser diluído por menos produção. É por isso que a energia eólica desempenha papel complementar na oferta total: é tratada como de reserva; fica disponível para ser acionada quando for preciso.
No Brasil, o setor esbarra com outros multiplicadores de custo. Um deles é a carga tributária mais alta do que no exterior, que incide sobre a produção e venda do equipamento que forma o conjunto de turbinas e pás específicas, os enormes cata-ventos que aparecem nas fotos das fazendas eólicas. No momento, o setor está contemplado por uma redução temporária de impostos.
O outro são as cláusulas de conteúdo nacional do equipamento (obrigatoriedade de produção no País), que bloqueiam a importação de um produto mais barato. O especialista Adriano Pires calcula que a derrubada dessa exigência contribuiria com a redução em cerca de 20% dos custos. Por outro lado, a baixa escala de produção desse equipamento no Brasil é, por si só, fator de elevação de custos, que poderiam cair com um programa de apoio do setor. Enfim, o círculo vicioso "é caro porque não tem demanda e não tem demanda porque é caro" poderia ser quebrado por um empurrão análogo ao que, nos anos 70, foi dado ao Proálcool.
E também não dá para ignorar o impacto ambiental. As fazendas eólicas vêm sendo apontadas como elemento poluidor de paisagem ou como geradoras de ruídos, especialmente para eventuais moradores das regiões próximas às turbinas. Outro problema é a mortandade de morcegos e também de pássaros quando as hélices das turbinas são instaladas nas rotas migratórias. Esta é a razão pela qual os especialistas vêm recomendando que essas fazendas sejam transferidas para áreas no alto-mar, o que não deixa de ser novo fator de aumento de custos.
Em todo o caso, a energia eólica está listada entre as que mais preservam as condições ambientais e, no momento, essa característica pode ajudar a aumentar o interesse pelo setor.
Confira
É novidade que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esteja defendendo um certo déficit nas contas correntes do Brasil (contas externas fora o fluxo de capitais). Normalmente esse rombo é visto como risco de moratória e, portanto, de crise.
No entanto, se o déficit se aprofundar, a cobertura para esse rombo não pode ser feita com empréstimos em dólares (aumento da dívida externa), como no passado.
Se for compensado com aumento do investimento estrangeiro direto e com recursos destinados ao reforço de capital da empresa brasileira, não há o que temer.
Entrevista:O Estado inteligente
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