Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 07, 2009

2012, de Roland Emmerich

Pare que eu quero descer

O único propósito de um filme como 2012 é mostrar o espetáculo
da hecatombe planetária. Mas Roland Emmerich acha que, mesmo que
o mundo esteja acabando, sempre sobra um tempinho para discutir a relação


Isabela Boscov

Divulgação
ALEGRIA QUE DURA POUCO
Cusack foge enquanto a Califórnia se desintegra: daqui a pouco, ele vai parar
para conversar

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Só a moça-símbolo da Columbia resta inteira em 2012 (Estados Unidos, 2009) – e essa é a primeira decepção do filme que estreia no país na próxima sexta-feira. O diretor Roland Emmerich, de Independence Day e O Dia Depois de Amanhã, é um veterano da destruição global; se não ocorre a ele que aquela mulher que segura a tocha está implorando por uma brincadeira, já se pode garantir que essa falta de imaginação vai continuar a se manifestar nas duas horas e meia seguintes. Entre os aborrecimentos de 2012,não se conta o amontoado de bobagens que acarreta mais este fim dos tempos, e que tem a ver com o calendário maia, um bombardeio de neutrinos e a propriedade até hoje ignorada dessas partículas de dissolver o planeta como se ele tivesse sido esquecido dentro de um forno de micro-ondas. A ciência sem pé nem cabeça é parte da satisfação profunda que os filmes-catástrofe proporcionam, porque confirma aquela suspeita que quase todas as culturas até hoje conhecidas alimentaram: a de que, seja por que desígnio for, um dia o aluguel vai vencer e as cidades e os continentes serão tragados pela terra ou varridos pelos oceanos, o Cristo Redentor, a Capela Sistina e a Casa Branca vão desmoronar, e aos que moram aqui só restará correr para lá e para cá, caindo no interior de fendas abissais ou fugindo de arranha-céus desabados. O cinema de efeitos hiper-realistas está em posição de vantagem ímpar para retratar cenários apocalípticos, e é só isso mesmo que se quer de um filme como 2012: um espetáculo ininterrupto de hecatombe planetária. Se John Cusack vai se entender com a ex-mulher, ou se os dois velhinhos que estão em um navio vão conseguir dar adeus a seus filhos antes da destruição final – ora, quem dá a mínima?

Roland Emmerich acha que a plateia se importa. Toda vez que seu filme começa a partir para o que interessa – como na desmiolada e deliciosa sequência em que Cusack e a família fogem, primeiro numa limusine e depois num pequeno bimotor, enquanto a Califórnia vai se desintegrando sob seus pés –, logo se interrompe a ação para que eles, ou os velhinhos, ou o cientista idealista (Chiwetel Ejiofor) que alertou para o fim iminente discutam suas respectivas relações. Emmerich, embora seja alemão, reza pelo credo do cinema americano de que pelo menos um cãozinho besta, uma família em vias de reconciliação e, claro, a democracia têm de ser salvos dos cataclismos. Presumivelmente, isso assegura que a civilização recomece com os valores corretos. Mas a que custo: a sobrevivência desses personagens exige o sacrifício de todos os outros que guardam um mínimo de interesse, como os bonitos, os simpáticos, os engraçados e os pérfidos. Se 2012 é chato, imagine-se então que tédio haverá de ser 2013.


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