Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 07, 2009

Diogo Mainardi ¡Uuu, aaa, Diego no se va!

"Para celebrar seus dez anos no poder, Hugo Chávez decidiu decretar um feriado nacional. Para celebrar meus dez anos de colunismo, tentei coagir o gerente
da Drogasmil a fechar suas portas. Nada feito"

Hugo Chávez, na última segunda-feira, comemorou dez anos no poder. Eu, no mesmo dia, comemorei dez anos de coluna em VEJA. Botei minha camisa vermelha, abotoada nos punhos, e entoei a rumba adesista do Grupo Madera, dedicada ao caudilho venezuelano.

No original:
¡Uuu, aaa, Chávez no se va!

Adaptei-a:
¡Uuu, aaa, Diego no se va!

E emendei, inserindo "editorialista" no lugar de "presidente":
Es un editorialista bueno
por eso se quedará
El pueblo está contento
lleno de felicidad.

A rumba bolivariana defende animadamente que Hugo Chávez possa se eternizar no poder. A matéria será votada no referendo do próximo dia 15. Eu toco minha conga para me eternizar num canto de página de VEJA. E para que ninguém, em momento algum, possa me arrancar daqui.

Para celebrar seus dez anos no poder, Hugo Chávez decidiu decretar um feriado nacional. Os comerciantes foram coagidos a fechar suas lojas. É o que acontece nos morros cariocas, quando morre um narcotraficante: a homenagem é imposta pelas armas. Hugo Chávez é o Comando Vermelho do Caribe. Para celebrar meus dez anos de colunismo, tentei coagir o gerente da Drogasmil a fechar suas portas. Nada feito. Ele se recusou. Onde está a Guarda Nacional?

A TV estatal venezuelana comemorou a data histórica transmitindo, ao vivo, o jogo de softball entre o time Sí Va – formado por membros do bando chavista – e a seleção olímpica feminina, vitaminada por ele próprio, Hugo Chávez, na primeira base. A seleção olímpica feminina venceu pelo placar de 4 a 1, e Hugo Chávez ergueu o troféu. Eu? Eu disputei uma partida de taco com Tito, meu maiorzinho, e Nico, meu menorzinho. Isso mesmo: Tito e Nico, uma dupla de rumbeiros. O resultado: venci por 12 a 0.

À tarde, depois de dedicar uma respeitosa soneca a Simon Bolívar, "El Libertador", escancarei as janelas de meu apartamento, no 3º andar, e pronunciei um discurso sobre esses dez anos de colunismo, parafraseando Hugo Chávez:

– Hoje começa o terceiro ciclo de meu trabalho e me atrevo a prognosticar quanto ele vai durar: de 2 de fevereiro de 2009 a 2 de fevereiro de 2019. A coluna chegou para estabelecer-se, para crescer, para ficar para sempre, para ser vitoriosa sempre. Há dez anos, a América Latina e o Caribe estavam praticamente ajoelhados aos mandos do império norte-americano. Prometo não descansar nem um segundo até que isso ocorra novamente. Viva meu canto de página.

O vendedor de cuscuz, que ia passando na rua, parou para me aplaudir. Fui até ele, cumprimentei-o e pedi-lhe duas fatias de doce, com abundante coco ralado e só um pinguinho de leite condensado. Ele cantou comigo:

¡Uuu, aaa, Diego no se va!

 


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