"Para celebrar seus dez anos no poder, Hugo Chávez decidiu decretar um feriado nacional. Para celebrar meus dez anos de colunismo, tentei coagir o gerente
da Drogasmil a fechar suas portas. Nada feito"
Hugo Chávez, na última segunda-feira, comemorou dez anos no poder. Eu, no mesmo dia, comemorei dez anos de coluna em VEJA. Botei minha camisa vermelha, abotoada nos punhos, e entoei a rumba adesista do Grupo Madera, dedicada ao caudilho venezuelano.
No original:
¡Uuu, aaa, Chávez no se va!
Adaptei-a:
¡Uuu, aaa, Diego no se va!
E emendei, inserindo "editorialista" no lugar de "presidente":
Es un editorialista bueno
por eso se quedará
El pueblo está contento
lleno de felicidad.
A rumba bolivariana defende animadamente que Hugo Chávez possa se eternizar no poder. A matéria será votada no referendo do próximo dia 15. Eu toco minha conga para me eternizar num canto de página de VEJA. E para que ninguém, em momento algum, possa me arrancar daqui.
Para celebrar seus dez anos no poder, Hugo Chávez decidiu decretar um feriado nacional. Os comerciantes foram coagidos a fechar suas lojas. É o que acontece nos morros cariocas, quando morre um narcotraficante: a homenagem é imposta pelas armas. Hugo Chávez é o Comando Vermelho do Caribe. Para celebrar meus dez anos de colunismo, tentei coagir o gerente da Drogasmil a fechar suas portas. Nada feito. Ele se recusou. Onde está a Guarda Nacional?
A TV estatal venezuelana comemorou a data histórica transmitindo, ao vivo, o jogo de softball entre o time Sí Va – formado por membros do bando chavista – e a seleção olímpica feminina, vitaminada por ele próprio, Hugo Chávez, na primeira base. A seleção olímpica feminina venceu pelo placar de 4 a 1, e Hugo Chávez ergueu o troféu. Eu? Eu disputei uma partida de taco com Tito, meu maiorzinho, e Nico, meu menorzinho. Isso mesmo: Tito e Nico, uma dupla de rumbeiros. O resultado: venci por 12 a 0.
À tarde, depois de dedicar uma respeitosa soneca a Simon Bolívar, "El Libertador", escancarei as janelas de meu apartamento, no 3º andar, e pronunciei um discurso sobre esses dez anos de colunismo, parafraseando Hugo Chávez:
– Hoje começa o terceiro ciclo de meu trabalho e me atrevo a prognosticar quanto ele vai durar: de 2 de fevereiro de 2009 a 2 de fevereiro de 2019. A coluna chegou para estabelecer-se, para crescer, para ficar para sempre, para ser vitoriosa sempre. Há dez anos, a América Latina e o Caribe estavam praticamente ajoelhados aos mandos do império norte-americano. Prometo não descansar nem um segundo até que isso ocorra novamente. Viva meu canto de página.
O vendedor de cuscuz, que ia passando na rua, parou para me aplaudir. Fui até ele, cumprimentei-o e pedi-lhe duas fatias de doce, com abundante coco ralado e só um pinguinho de leite condensado. Ele cantou comigo:
¡Uuu, aaa, Diego no se va!