Documentário mostra ascensão e queda de Wilson Simonal
Dudu Tresca |
Simonal: entertainer nato, ele foi acusado de ser informante do regime militar |
Um dos maiores intérpretes da MPB, Wilson Simonal foi condenado ao desterro artístico por causa de um imbróglio até hoje mal explicado. Em 1971, ele desconfiou que seu contador o estivesse roubando. Teria então pedido a dois seguranças que dessem uma lição (leia-se uma surra) no trapaceiro. Um dos sujeitos era ligado ao Dops, órgão de repressão do regime militar, e Simonal foi acusado de ser informante da ditadura – acusação que o acompanhou até a morte, em 2000, aos 62 anos. Ninguém Sabe o Duro que Dei (Brasil, 2007), documentário de Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, tenta explicar o porquê do banimento de Simonal por seus pares. Para tanto, entrevista, de maneira inédita, Raphael Viviani, o ex-contador e suposto autor do desfalque, bem como artistas. O saxofonista Paulo Moura confessa que deixou de chamar Simonal para seus shows porque temia cair em desgraça com a esquerda. O cartunista Jaguar, então do Pasquim, um dos jornais que mais bateram em Simonal, desvia-se do assunto concentrando-se na questão da surra. "De repente, esse contador merecia levar uma surra", ironiza. Outro mérito de Ninguém Sabe é mostrar a qualidade de Simonal como intérprete. O jornalista Nelson Motta e o comediante Miéle, entre outros, exaltam a musicalidade do cantor, enquanto as muitas cenas de arquivo relembram que ele era um entertainer, capaz de fazer a platéia do Maracanãzinho cantar em coro Meu Limão, Meu Limoeiro. Exibido na semana passada no festival É Tudo Verdade, o documentário deve ser lançado em circuito comercial no segundo semestre.