O Globo |
4/4/2008 |
Não há dúvida de que o presidente Lula já conseguiu uma proeza que era impensável: uniu os governistas, principalmente os petistas, na defesa da chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff. A tal ponto que um comentário jocoso do senador Mão Santa, entre muitos que já fez no Senado, transformou-se em um escândalo para a bancada feminina petista. E mais um dossiê apócrifo contra os adversários, desta vez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, transformou-se em uma trama rocambolesca, aquela em que acontecem muitas peripécias, muitas idas e vindas e aventuras inverossímeis. O adjetivo tem origem no personagem Rocambole, criado em 1857 pelo escritor francês Ponson du Terrail, um precursor da moderna literatura de mistério e aventuras. Pois são rocambolescas a história desse dossiê e as versões sobre ele, que vão desde a do "fogo amigo" até a de que ele foi produzido por um tucano infiltrado na Casa Civil, sempre para comprometer a eventual candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. O dossiê denunciado pela revista "Veja" há 15 dias foi tratado pelo governo primeiro como uma mentira, a ponto de a própria ministra Dilma Rousseff ter pegado o telefone para garantir a dona Ruth Cardoso que ele não existia, transformou-se em um mero "banco de dados" e acabou, na nova versão oficiosa, sendo um dossiê montado por espião tucano. O governo estava num córner político diante do fato de que foi montado dentro do Palácio do Planalto um dossiê com dados sigilosos sobre um ex-presidente, e surge a informação de que o senador Álvaro Dias tinha conhecimento dele antes de ser publicado, e teria sido o autor do vazamento da informação. Foi o bastante para que a versão de que um espião tucano montara o dossiê prosperasse. A nova versão rocambolesca não resiste a uma análise primária: se há um tucano infiltrado na equipe da ministra Dilma com acesso a dados sigilosos, por que não pegaria então dados dos gastos do presidente Lula e de sua família? Ao contrário, pela versão oficiosa, o espião tucano preferiu uma manobra mais sofisticada, montando um dossiê contra seus próprios correligionários para culpar o governo. Digno de nosso herói Rocambole. A discussão teve sua finalidade distorcida, e passou a ser, então, sobre quem entregou ao senador Álvaro Dias o tal dossiê, como se um senador da República fosse obrigado a revelar suas fontes. E não sobre o que importa mesmo, ou seja, quem fez e por que fez o dossiê com dados dos gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O empenho dos governistas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre os cartões corporativos em não deixar que seja convocado um simples ecônomo do Palácio do Planalto, que gastou sem explicações mais de R$700 mil, é revelador de um temor que por si só justifica as investigações. Como disse ontem o senador Pedro Simon, um símbolo de político ético, "não fica bem" para os políticos o que está acontecendo nas CPIs, especialmente o uso da maioria governista para impedir qualquer investigação, tanto nos cartões corporativos quanto nas ONGs. Continuando no trabalho de despistamento, a bancada petista resolveu transformar um discurso do senador Mão Santa em uma ofensa à ministra Dilma Rousseff em especial, e às mulheres de maneira geral. Na verdade, o grave do discurso do senador piauiense não foi o comentário "politicamente incorreto" sobre galinhas cacarejando, mas sua comparação do PT com o partido nazista alemão. Mas o ponto central dos discursos inflamados da bancada feminista do PT foi contra uma suposta ofensa de Mão Santa à ministra Dilma Rousseff. Até a senadora Roseana Sarney, falando como líder do governo, misturou o drama da senadora colombiana Ingrid Bettancourt com a suposta agressão de que teria sido vítima a ministra Dilma Rousseff e ela própria, quando foi candidata a presidente. Todas mulheres, políticas, num mundo masculino agressivo. Na verdade, o que o senador peemedebista fez foi criticar a propaganda permanente do governo sobre as obras do PAC, chegando a citar a tese de Goebells de que uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade. Pela transcrição oficial do discurso, disse Mão Santa, citando o livro "Minha luta", de Adolf Hitler: "Não podiam ficar sossegados, quando tinham uma notícia nova; costumavam, a maior parte das vezes, cacarejar antes mesmo de pôr o ovo. Vejam aí o PAC. Estão cacarejando. Ele diz que é a mãe do PAC. Manda o outro dizer que é presidente. (...) É a galinha cacarejadora". Claramente o senador Mão Santa não estava xingando a ministra Dilma Rousseff de "galinha", como sugeriu a senadora Serys Slhessarenko, mas de "cacarejadora". Acontece que, segundo os dicionários, o cacarejar é próprio de galinhas e outras aves similares e, portanto, dizer que alguém, homem ou mulher, é "galinha cacarejadora" pode ser uma expressão infeliz, mas não é ofensiva. O que merecia repulsa coletiva do PT era a comparação com o Partido Nazista. O senador chamou a atenção para o fato de que os dois partidos têm o vermelho como cor principal, e o senador Jefferson Peres ainda reforçou a tese, lembrando que o nome oficial do partido nazista era Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Somente a senadora Ideli Salvatti referiu-se a essa parte do discurso de Mão Santa, recusando as comparações, mas em meio a um discurso em que o ponto fulcral era a defesa das mulheres, como se elas tivessem sido ofendidas. Uma clara operação diversionista para desviar a luta política de mais um dossiê saído das entranhas do Palácio do Planalto. |
Entrevista:O Estado inteligente
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Merval Pereira - Versão rocambolesca
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