Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 05, 2014

Ficha que cai - Dora Kramer - Estadão

Ficha que cai - Política - Estadão

Não é só a presidente Dilma Rousseff que deu um banho de loja no temperamento quando percebeu que, irritação por irritação, a do País era bem maior que a dela em seu modo irascível de governar e com potencial de prejuízo bem maior sobre o projeto de poder de seu grupo político.

Dilma amenizou, mas o PT também deu uma boa reduzida no tamanho do salto do sapato nos últimos tempos. Fruto do cenário adverso retratado sem retoques em reunião do alto comando da campanha da reeleição na última segunda-feira, no Palácio da Alvorada.

Segundo relatos, João Santana, o marqueteiro, informou que diminuiu a confiança do eleitor na capacidade de o governo representar o desejo de mudanças.

Significa o enterro definitivo da previsão feita por ele de que Dilma venceria no primeiro turno e iria pairar "sobranceira" sobre os "anões" da oposição. O equívoco não tem nada demais. Ninguém é obrigado a adivinhar. O exercício da arrogância, porém, dá ao vaticínio um toque de vergonha alheia.

O importante a notar é que a ficha caiu. Ou parece ter caído. Não se fala mais em vitória no primeiro turno, não se tratam mais os aliados como subalternos (é de se ver até quando), praticamente sumiram de cena as ironias dirigidas aos críticos do governo como integrantes de um ínfimo porcentual de insatisfeitos dados a intenções golpistas e já há algum tempo que não se ouvem acusações às elites. Ao contrário, o esforço é de sôfrega reconquista.

Mas, há um sinal mais eloquente. Traduzido em atitudes que, se adotadas antes, talvez tivessem evitado muitos desgastes ao partido: o PT, outrora complacente com transgressões dos seus, agora já não os protege.

Forçou a desfiliação do deputado André Vargas em decorrência de seu envolvimento com o doleiro Alberto Youssef e suspendeu por 60 dias o deputado estadual Luiz Moura por suspeita de participar de reunião com integrantes de organização criminosa.

É pouco, diante de tudo o que já foi acobertado, quando o governo estava no auge, o partido tinha gordura para queimar e a popularidade de Lula funcionava como uma blindagem que transformava o inaceitável em perfeitamente aceitável?

Sem dúvida. Nenhum dos dois era parte da cúpula nem privava, como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino, da intimidade do poder? De fato.

Ainda que pragmática, já é alguma coisa a prática de alguma ética.

É sério? O ministro da Fazenda, Guido Mantega, atribui o diminuto índice de crescimento (0,2%) do PIB no primeiro trimestre do ano à inflação, como se a alta de preços não guardasse relação alguma com a política econômica sob sua responsabilidade.

E a presidente Dilma cala, consentindo na escolha do vilão que por reiteradas vezes garantiu não ser motivo de preocupação.

Muito sério. À primeira vista soou esquisita declaração da presidente da Petrobrás, Graça Foster, recusando-se a comentar a entrevista em que o ex-diretor Paulo Roberto Costa disse que a construção da refinaria Abreu e Lima foi decidida na base da "conta de padeiro". Ou seja, no tapa, sem planejamento nem embasamento técnico.

Mas, a afirmação da presidente da estatal - "Não é que não queira, é que não posso falar" - passa a fazer sentido quando a gente lembra o entusiasmo com que na época do lançamento do projeto da refinaria, um empreendimento em parceria com o governo Hugo Chávez que o Brasil acabou pagando sozinho, o então presidente Lula se orgulhava de ter feito a "vontade política" prevalecer sobre as conclusões técnicas e as análises de mercado nas decisões da Petrobrás.



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