O Estado de S.Paulo
25 Junho 2014 |
O comércio exterior vai mal, a exportação continua emperrada e o Banco Central (BC) diminuiu de US$ 8 bilhões para US$ 5 bilhões o saldo comercial projetado para este ano. Além disso, o investimento estrangeiro direto, US$ 66,53 bilhões nos 12 meses terminados em maio, continua insuficiente para cobrir o buraco na conta corrente do balanço de pagamentos, US$ 81,85 bilhões no mesmo período. Nem os comentários mais otimistas do chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, tornaram o quadro menos feio. O financiamento do déficit, segundo ele, continua confortável. A parcela coberta pelo investimento direto, acrescentou, "continua sendo de 80%". Mas há dois anos esse tipo de recurso era mais que suficiente para compensar o rombo. O cenário piora e, na falta de solução mais satisfatória, o discurso se adapta às novas circunstâncias.
Para o ano, o BC mantém a projeção de um déficit de US$ 80 bilhões em conta corrente. Para o investimento direto a expectativa é de US$ 63 bilhões. A diferença será coberta, como no ano passado, por outras aplicações, mais especulativas, mais instáveis e, portanto, menos seguras.
O quadro seria ruim mesmo sem a perspectiva de um mercado financeiro menos favorável. A redução de incentivos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já afeta as condições internacionais de crédito e encarece o capital. Além disso, juros mais altos têm geralmente como contrapartida preços menores para as commodities. Também esse efeito é prejudicial ao comércio exterior brasileiro, muito dependente de exportações de produtos básicos.
O efeito dessa queda de preços foi mencionado pelo economista Túlio Maciel na entrevista sobre as contas externas de maio. Apesar da menor receita de exportação, o déficit comercial diminuiu no mês passado e o saldo ainda poderá melhorar nos próximos meses. Mas nem essa expectativa reflete, de fato, uma visão mais positiva das condições econômicas do País.
A revisão do saldo comercial projetado para 2014 envolveu mudanças tanto da receita quanto da despesa. O valor esperado para a exportação passou de US$ 253 bilhões para US$ 245 bilhões, enquanto o gasto previsto com a importação diminuiu de US$ 245 bilhões para US$ 240 bilhões. Trata-se, portanto, de uma redução da corrente de comércio.
Essa redução é atribuída tanto às condições do mercado internacional, com preços menores para as commodities, quanto à deterioração da economia interna. O crescimento menor, no Brasil, tem contribuído para conter o déficit nas transações externas, observou o economista. Esse efeito é visível tanto na redução das importações de bens quanto na diminuição dos gastos com os serviços de transportes - em linha, segundo ele, com o menor fluxo comercial.
Em outras palavras: o baixo nível de atividade tem freado as importações de mercadorias e os gastos com certos serviços. De janeiro a maio o valor exportado, US$ 90,06 bilhões, foi 3,46% menor que o de um ano antes. A despesa com importação, US$ 94,92 bilhões, foi 3,80% inferior à dos meses correspondentes de 2013.
No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) foi apenas 0,2% maior que nos três meses finais do ano passado e isso, de acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, ajudou a reduzir o desequilíbrio comercial. Faltou dizer: a estagnação econômica está gerando, nas contas externas, um efeito semelhante àquele provocado intencionalmente por um ajuste recessivo.
Mas políticas de ajuste são aplicadas intencionalmente e a recessão é um custo previsível. No caso atual, o crescimento quase nulo é consequência de erros cometidos pelo governo. Uma política consciente de ajuste serviria também para derrubar a inflação. No Brasil, a alta de preços continua resistente, nem o BC prevê a convergência para a meta, 4,5%, nos próximos 12 meses.
Nesse quadro, até a lenta melhora do saldo comercial soa como notícia ruim: é mais um sintoma de uma economia cada vez mais frágil e desarticulada, produto de uma longa acumulação de erros políticos.