Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 11, 2014

Cabe tudo e mais um pouco - Celso Ming - Estadão

Cabe tudo e mais um pouco - Economia - Estadão

 As rendas com prostituição, narcotráfico, comércio ilegal de armas, contrabando e lavagem de dinheiro entram obrigatoriamente no PIB da União Europeia. O Eurostat, o instituto encarregado das estatísticas do bloco, já tomou as providências para que a novidade faça parte das Contas Nacionais de cada país. 

Inglaterra, Itália, Estônia, Suécia, Noruega, Finlândia e Áustria já avançaram nessa contabilidade. A tão vitoriana Inglaterra concluiu que as atividades ilegais correspondem a 10 bilhões de libras (US$ 16,8 bilhões), magnitude que aumentou o volume do PIB inglês em 0,6 ponto porcentual. A partir de setembro, a Itália incorporará as novas rubricas em suas contas.

A questão é controversa do ponto de vista ético porque deve acolher atividades banidas e ilegais.

Do ponto de vista político, o aumento da renda medida de uma economia pode ser interessante porque facilita o cumprimento de certas exigências. Na área do euro, por exemplo, um país não pode apresentar uma dívida pública superior a 60% do PIB e um déficit público superior a 3% do PIB. O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi (foto), parece ter acolhido a exigência com alívio porque está obrigado a apresentar um déficit de suas contas públicas não superior a 2,6% do PIB, ou seja, em euros, pode agora apresentar déficit mais alto.

As agências de classificação de risco também levam em conta o tamanho do PIB para aferir a capacidade de uma economia ou de uma empresa de honrar seus passivos. É como acontece com o salário. Quem ganha mais pode enfrentar mais dívidas. Se o PIB fica mais alto, a dívida e as contas públicas ganham um empurrão.

Neste ano, o governo Dilma pediu que o IBGE revisse a participação do setor de serviços no PIB, dentro do pressuposto de que os novos cálculos ajudariam a aumentar a renda real do brasileiro. O IBGE ficou de apresentar a novidade ainda em 2014. O secretário do Tesouro do Brasil, Arno Augustin, vem se notabilizando pelos cálculos mágicos que aplica às contas públicas. Deve estar salivando com a decisão da União Europeia.

Sempre sobrará alguém para lembrar que a economia do Brasil não pode parecer mais nanica do que realmente é, especialmente depois que outras potências passaram a adotar outras metodologias para avaliar o tamanho do PIB.

Como medir a renda e os serviços prestados nos bordéis, na produção e tráfico de drogas, no contrabando ou, simplesmente, na economia informal é um complicador que agora vai ser examinado por essas novas exigências de fato. 

Há anos, o IBGE já vinha sendo chamado a calcular o tamanho da economia informal que engloba atividades não necessariamente ilegais, como a própria prostituição, bicos e trabalhos de autônomos. Os resultados nunca foram rigorosos, mas houve um tempo em que se entendeu que a economia paralela no Brasil correspondia a alguma coisa em torno dos 30% do PIB.

Do ponto de vista da avaliação do crescimento econômico, não basta ter a medida de um ano e a partir daí concluir que, em vez de 1,5%, o PIB avançou 2,2%. É preciso ter uma referência anterior calculada com um mínimo de rigor para servir de comparação. 



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