Estadão
O festim licencioso a que assistimos nas alianças partidárias nessa fase de arrancada da campanha eleitoral não é novidade, não é ilegal e nem por isso motivo de orgulho nacional.
Ao contrário: é o retrato da inconsistência dos partidos, decorrente de regras e mentalidades que distanciam o sistema representativo de qualquer coisa parecida com representação.
Premissa posta e já devidamente analisada com a concordância unânime tanto dos observadores quanto dos operadores da política, passemos à seguinte questão: sendo assim tão desimportantes, por que os candidatos comemoram com tanta euforia a adesão deste ou daquele partido?
O tempo de televisão explica em parte, mas não explica toda a história. A presidente Dilma Rousseff não carece de minutos no horário eleitoral. No entanto, depois de ter perdido o apoio do PTB, luta para manter o PP, o PR, o PROS (ontem confirmaria o apoio em convenção) e o PSD.
A adesão de qualquer uma dessas legendas ou de qualquer outra - vale também para a oposição - com toda certeza não orienta o voto do eleitorado. Pelo menos não nas capitais e nas cidades médias e grandes.
Conforme nossa premissa inicial, os partidos são inconsistentes, não dispõem de referência nem identificação junto à sociedade e por isso fazem o que bem entendem em termos de aliança.
Tem sido sempre assim. Nessa eleição as coligações têm chamado mais atenção devido às defecções na base governista e aí chegamos ao ponto que talvez desperte discordância: por incrível que pareça, o que comanda os partidos é o movimento do eleitorado e não o contrário.
É justamente o fato de a presidente ter caído nas pesquisas, apresentar alto índice de rejeição e tendência de queda com avaliação negativa de governo que provoca a correria dos ditos aliados em busca de portos que possam ser mais seguros.
Se Dilma estivesse firme, com a reeleição garantida, a insatisfação dos políticos poderia ser a mesma, mas estariam engolindo cada qual o seu sapo bem quietinhos ante a perspectiva de poder, cuja materialização só ocorre se o eleitor quiser.
Portanto, toda essa loucura de alianças unindo partidos de oposição e situação, legendas que dizem uma coisa no plano federal e seu oposto no âmbito estadual, quando não assumem discursos divergentes entre seus próprios candidatos, essa maluquice tem um método.
E a metodologia é essa: examina-se em que direção sopra o vento da vontade popular e para lá seguem os partidos. Se a tendência virar, não tem problema, voltam todos para onde a ventania mandar.
Semeadura. A política não ficará pior nem melhor com a desistência de José Sarney de disputar eleições. Inclusive porque ele continuará atuando nos bastidores.
Deixou herdeiros de direito, na família, e de fato, nos métodos arcaicos, patrimonialistas, referidos na manha e na astúcia que já não combinam com uma sociedade que exige transparência, correção e fiscalização.
A saída de cena de Sarney não fecha ciclo algum, pois a política continua velha nos métodos e na cabeça da grande maioria dos que se dedicam à atividade.
José Sarney teve um grande papel como primeiro presidente na transição da ditadura para a democracia. Seu temperamento conciliador ali foi fundamental. Poderia ter passado para a história como aquele personagem. Preferiu afundar a biografia no fisiologismo, no populismo de uma política econômica desastrosa e em seguidos mandatos que não lhe proporcionaram uma saída honrosa.
Por assim dizer. Todo mundo sabe que é disso que se trata, mas não soou gentil para com a presidente Dilma o ex-presidente Lula referir-se aos dois como "criador e criatura" na convenção do PT.