Sabor de derrota
Depois de ver Alemanha x Portugal, com os três gols de um craque como Müller, o jogo de ontem deixa claro o quanto o Brasil tem que melhorar. "Imagina com a Alemanha!", pode ser o novo bordão. Para quem esperava que a história da Copa das Confederações se repetisse, o empate com um time que quase não se classificou teve o saber de derrota.
A multidão que foi ao Castelão merecia mais, pois foi ela que ofereceu o que houve de mais bonito: o espetáculo de desobediência civil ao "patrão" Fifa, ao cantar mais uma vez à capela o Hino Nacional por inteiro. Ronaldo Fenômeno disse que a geração dele foi vitoriosa, mas não chegou a ter o apoio popular de agora.
Acho que ninguém se saiu bem, nem Felipão, que passou o tempo todo à beira do campo pedindo o óbvio: "volta", "marca", "cuidado". Procurou orientar mais o juiz, pedindo cartão amarelo, do que os jogadores. Fez três substituições, mas não apresentou nenhuma surpresa tática, só o previsível. No intervalo, quando as coisas já não iam bem, Parreira procurou justificar o mau desempenho, alegando que o adversário era um time muito bem organizado e que o juiz devia ter sido mais enérgico. De fato, em menos de dois minutos, os mexicanos fizeram duas faltas, mas depois houve um equilíbrio também de jogadas pesadas.
Esperava-se que o Brasil corrigisse seus erros e voltasse melhor, tão bem organizado quanto os mexicanos. Voltou pior. Sufocado pelo adversário, perdeu completamente o comando do jogo. A nossa defesa procurava rifar a bola pra frente e deixava os atacantes livres para chutar. No nosso ataque, à parte uns lances extraordinários do goleiro Ochoa, também faltou entrosamento e qualidade. Fred não conseguiu nenhum pênalti e Jô foi igualmente inoperante. Neymar, fora algumas jogadas de efeito, não estava no seu dia.
Enfim, Irã e Nigéria, que ao empatarem em 0 x 0 irritaram tanto a torcida (o jogo foi considerado o pior da Copa), têm agora uma nobre companhia.
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Não vi Argentina x Bósnia no Maracanã, onde parece ter havido brigas entre torcedores. Mas na Zona Sul o clima geral tem sido de confraternização, num emocionante exemplo de civilidade diante da "legião estrangeira" que invadiu a cidade. Quem poderia imaginar a convivência alegre e bem-humorada entre cariocas e argentinos, nossos eternos rivais? Tomara que continue assim.
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Que a Copa não nos faça esquecer as previsões sombrias do Ibope, cuja pesquisa mais recente para governador do Rio indica 27% de votos nulos e em branco, sem falar na possibilidade da eleição de... nem é bom pensar.
Zuenir Ventura é jornalista
Enviada do meu iPhone