O Globo - 02/09
A “geografia do voto” das últimas eleições para prefeito do Rio mostra que a situação do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB), é relativamente tranquila para a sua reeleição, que pode ocorrer no primeiro turno.
Mas, se houver segundo turno, aumenta o risco de derrota com a união de todas as forças políticas que estão fora da aliança do governo estadual com o municipal, como quase aconteceu em 2008, quando Fernando Gabeira perdeu por muito pouco para o mesmo Paes.
Essa é a conclusão de um grupo de analistas da PUC do Rio, comandado pelo professor Cesar Romero Jacob, que lançou um e-book com a análise do comportamento dos eleitores nas eleições para presidente e prefeito no Rio e São Paulo de 1996 a 2010.
Com 150 mapas contendo a votação por zonas eleitorais, o e-book, está acessível gratuitamente na página daEditora PUC-Rio.
Para Cesar Romero, no Rio o elemento novo é que, depois de tantos anos com as forças locais em rota de colisão com o governo federal, há um pacto entre o PT nacional e o PMDB estadual.
Essa situação mudando com o governo Lula e Sérgio Cabral, é favorável a Eduardo Paes porque “há muito tempo não temos tanto dinheiro federal entrando no Rio, especialmente por conta de Olimpíadas, com a reurbanização da área portuária”.
Essa aliança nos três níveis de governo está trazendo investimentos para o Rio, e, com tantos eventos internacionais programados — Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo e Olimpíadas — tudo faz com que haja muito interesse em que esse caminho tenha continuidade, analisa o professor.
No entanto, não podemos perder de vista que as demais forças políticas, por instinto de sobrevivência (e só isso uniria Garotinho e Cesar Maia), estarão juntas na tentativa de derrotar Cabral.
Ele acha que, além do “instinto de sobrevivência”, as forças políticas opositoras não desejam que o governador detenha o poder também na capital.
E se, além disso, o candidato a prefeito é também aliado do presidente da República, o problema torna-se maior para a oposição: se o prefeito de uma capital como Rio e São Paulo for aliado no plano nacional, poderá ter muitos recursos federais, além dos tradicionais.
De acordo com os mapas eleitorais, é possível afirmar que começa a se configurar no Rio uma divisão entre a metade norte e a metade sul da cidade, que tem a ver com escolaridade e renda.
Romero Jacob chama a atenção para o fato de que a votação de Eduardo Paes é fundamentalmente na metade norte da cidade, sendo que no segundo turno de 2008 ele chegou a ter 70% dos votos em Santa Cruz, Campo Grande, Bangu. Na orla, ele não passou de 25% em bairros como Barra, São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana. Fernando Gabeira chegou a 76% na orla, e, na metade norte, ele não passou de 36%.
Outro aspecto importante no Rio é a religião. A área com mais evangélicos é a metade norte do município, sobretudo a Zona Oeste popular (Bangu, Campo Grande e Santa Cruz). Já o mapa dos católicos inclui a orla, a Zona Sul, a Tijuca e a Zona da Leopoldina.
No Rio, lembra o professor, que tem um estudo sobre a influência das religiões nos votos, conta mais para evangélicos, por que a Igreja Católica já aprendeu que católicos podem ser de vários partidos, e é melhor não levar para a Igreja o que está fora dela. Ela defende valores: católicos não devem votar em quem defende aborto. Mas lembra que os evangélicos levam a política para dentro das igrejas, e isso pode interferir na votação.
Na sua avaliação, no primeiro turno vai haver uma fragmentação eleitoral. “Alguma máquina o Cesar Maia há de ter ainda. O Marcelo Freixo, do PSOL, vai ter voto no que chamo de “a grande Santa Teresa”, reduto da esquerda carioca: Laranjeiras, Flamengo, Tijuca,e Vila Isabel e Maracanã. Mas não acredito que vá ter o desempenho na orla que Gabeira teve”.
Ele adverte que não se deve esquecer que Cesar ganhou quatro eleições seguidas para a prefeitura, e que “é um bom estrategista político”. “Na verdade, é a primeira vez na história das eleições que um candidato como Paes ganha derrotando a metade sul do município. Em todas as vitórias de Cesar Maia, ele ganha com o voto da orla”.