FOLHA DE SP - 04/09
TERMINOU O período de férias no Hemisfério Norte. A agenda do tumulto já está lotada. Voltam aos palcos os dramas grego e português. Espanha e Itália esperam de pires na mão as decisões de amanhã do Banco Central Europeu. Há rumores de que a China ensaia um espetáculo inédito, a ópera do Pibinho, que no caso deles é crescer menos de 7,5%.
Notícias de um mundo distante da pastosa tranquilidade brasileira? Não, não. Isso tudo é má notícia de interesse imediato para nós, que carregamos o lastro de nossos problemas autóctones e o vento contrário que sopra do resto do mundo.
Os tecnocratas da finança pública e privada do mundo voltam aos seus escritórios com energia renovada para estrangular ainda mais Grécia e Portugal, como se isso fosse ainda humanamente possível. Humanamente, não é.
Portugal não vai atingir suas metas de redução de deficit-dívida públicos, pois afunda na recessão e, pois, pois, arrecada menos. Vai ter de pedir água.
A Grécia talvez atinja suas metas, cortando pela metade os benefícios sociais dos velhos e, talvez aumentando a semana de trabalho de cinco para seis dias, como querem os representantes dos seus credores (União Europeia, BC Europeu e FMI).
Vai dar tumulto. Tumulto na finança mundial assusta todo mundo, inclusive empresário brasileiro, já ressabiado com o crescimento miúdo do último ano e meio.
Para piorar, agosto foi um desgosto em termos de crescimento. Na Europa, a produção industrial provavelmente encolheu pelo 13º mês consecutivo.
Na China, nossa maior cliente, a indústria encolheu pela primeira vez desde 2011. As exportações chinesas, que cresciam a 20% no ano passado, crescem ora a menos de 8%. Os estoques de aço, ferro, carvão e cimento, matéria-prima da infraestrutura, aumentam. Não por acaso, nossas exportações de ferro despencam em preço e quantidade.
Os chineses estão em transição, mudando de governo e, dizem eles, de modelo de crescimento. De 2005 a 2011, cresceram cerca de 11% ao ano, em média, mesmo com o tombinho do crescimento de "apenas" 8,7% em 2009, ano de recessão feia no mundo.
Para este ano, a meta deles é crescimento de 7,5%. Por ora, está por aí, mas há risco de que a meta não seja atingida. Os líderes chineses não se movem, porém, pelo menos até agora ou até o desemprego começar a aumentar.
Parece que os chineses querem mesmo desacelerar. Isto é, reduzir investimentos em infraestrutura, responsáveis por mais de metade do crescimento do PIB; querem exportar menos, consumir mais. "Mudar o modelo", dizem.
Mas parte da freada se deve à anemia do consumo no resto do mundo, sentida em toda a Ásia exportadora -as exportações coreanas estão despencando.
Controlada ou não, contida ou destrambelhada, a freada chinesa nos afeta, assim como a todos os produtores de commodities. Os australianos, por exemplo, cheios de ferro e carvão, estão nervosíssimos com a mudança chinesa, e temem recessão para eles mesmos em 2013.
Nós deveríamos estar mais nervosos também. Europa no pantanal, EUA indefinidos e devagar e China desacelerando, tudo isso é muita lama para o nosso caminhãozinho.
Entrevista:O Estado inteligente
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