Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 22, 2012

Piso para o câmbio Celso Ming


O Estado de S. Paulo - 22/08/2012
 
O Banco Central voltou ontem a comprar moeda estrangeira no mercado futuro porque as cotações ameaçavam resvalar para abaixo de R$ 2 por dólar.
Aparentemente, a operação não foi o sucesso esperado. Dos 50 mil contratos oferecidos ao mercado, só foram fechados 7 mil e, logo em seguida, os preços do dólar voltaram a cair. Mas o que importa aí não é o vaivém das cotações; é a atitude do Banco Central e suas consequências.
Desde maio deste ano, sempre que a oferta de moeda estrangeira no câmbio interno tende a empurrar as cotações para abaixo dos R$ 2, o Banco Central intervém ou por meio de compras de moeda estrangeira no mercado à vista ou no mercado futuro, como ontem, para impedir nova valorização do real.
O que ontem pela manhã firmara tendência de baixa do câmbio não foi nem sequer uma grande entrada de dólares no País. Foi somente a percepção de que a economia mundial pode ser beneficiada nas próximas semanas com novas injeções de euros nos mercados em consequência de emissões realizadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Também se reforçou a aposta de que, apesar dos desmentidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) opte por novas recompras de títulos do Tesouro dos Estados Unidos com o objetivo de reativar a economia.
Há 16 dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, observou que a principal medida de política cambial tomada pelo governo Dilma para desvalorizar o real (aumentar a cotação do dólar para devolver competitividade à indústria) foi de natureza monetária; foi a derrubada dos juros promovida desde agosto de 2011 pelo Banco Central.
Com isso, Mantega avisou que a política de juros do Banco Central não vem sendo usada apenas para empurrar a inflação para dentro da meta (de 4,5% neste ano), mas, principalmente, para evitar as chamadas operações de arbitragem feitas pelos especuladores que tomam dólares emprestados no mercado internacional, trazem os recursos para o Brasil e aqui ganham com a diferença de juros e, nesse jogo, derrubam as cotações no câmbio.
Se a política de juros fosse suficiente para manter afastados os especuladores e segurar o dólar à altura dos R$ 2, o Banco Central não precisaria intervir. Mas interveio.
E, no entanto, nada de especialmente novo aconteceu ontem nos mercados cambiais que repetisse o tsunami monetário de que a presidente Dilma tanto se queixou há alguns meses.
O que tem de ser levado em conta é que, apesar do desestímulo às operações de arbitragem com juros e da sistemática intervenção do Banco Central, a tendência do câmbio continua sendo de valorização do real (baixa do dólar). Para isso, não é preciso nem sequer que esteja a caminho uma solução definitiva para a crise. Basta que os mercados fiquem mais otimistas em relação à evolução da economia global.
A longo prazo, o Banco Central não pode alterar uma tendência firme do câmbio. Para garantir competitividade ao setor produtivo, a economia brasileira não poderá contar só com redução dos juros e com intervenções do Banco Central. É necessário aprofundar o que a presidente Dilma começou a fazer: derrubar os custos de produção no Brasil.

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