FOLHA DE SP - 29/08
Numa reação apressada aos dados que indicam estagnação na qualidade do ensino médio no país, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), propôs substituir o atual método de avaliação de alunos e escolas secundárias -a Prova Brasil- pelo Enem.
Numa nota que vai de zero a dez, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio, apurado com ajuda da Prova Brasil, oscilou de 3,6, em 2009, para 3,7, no ano passado. Insatisfeito com a imagem revelada, Mercadante quer trocar a câmera.
Segundo o ministro, a Prova Brasil usa apenas uma amostragem de cerca de 70 mil estudantes do terceiro ano desse nível de ensino para construir o indicador de desempenho. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em contrapartida, seria, diz Mercadante, "quase censitário". Ou seja, abarcaria quase todos os alunos dessa etapa.
Ocorre que, como qualquer estatístico sabe, é preferível uma amostra menor e mais precisa do que uma que, apesar de maior, represente mal o conjunto por avaliar.
É o que acontece com o Enem. Como o exame foi convertido no principal instrumento de seleção de alunos para as universidades federais, participam sobretudo os que concorrem a uma dessas vagas. Muitos estudantes com pior desempenho nem fazem a prova.
Essa "autosseleção" torna desprovida de sentido a comparação do ministro entre os resultados do Enem e os da Prova Brasil. Segundo Mercadante, o Enem estaria captando melhoras no ensino médio que escapam ao Ideb. Ora, parece mais provável que seja a Prova Brasil a captar o mau desempenho de alunos que se excluem do Enem.
Para contornar o problema seria necessário tornar o Enem obrigatório e, assim, verdadeiramente censitário. Mas a ampliação de um exame com logística complexa, que tem apresentado falhas recorrentes, consumiria milhões de reais numa aventura.
Não há sentido, a não ser do ponto de vista da propaganda política, em se desfazer da Prova Brasil. O mais recomendável é que Mercadante mude o foco de suas atenções -que deixe de lado a inovação estatística e passe a expor como pretende melhorar, de fato, a nota do ensino público no Brasil.
Entrevista:O Estado inteligente
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