O Globo - 22/08/2012 |
A série de reportagens que O GLOBO publica desde domingo, com a emblemática rubrica de "O expresso da dor", acrescenta mais elementos ao drama dos pacientes que dependem do atendimento do sistema de saúde pública fluminense. Municípios do estado, principalmente da Baixada Fluminense, deixam de cuidar de seus doentes e adotam a solução mais simples - para o poder público local - de transferi-los para unidades da capital, em busca de tratamento e internação. O movimento de repassar responsabilidades para fora das próprias fronteiras tem pelo menos dois efeitos nocivos, um em cada ponta envolvida nessas ações. Na parte de onde procedem as incontáveis remoções, sofrem os pacientes, não raro obrigados a fazer extenuantes viagens, carregando suas próprias dores ou levando ao colo crianças para serem medicadas. No lado que, sem ter como recusar socorro, os recebe sobrecarrega-se a já crítica rede de atendimento dos hospitais públicos da capital. Neste último caso, compromete-se o esforço que governos estadual e municipal têm feito para cuidar das próprias demandas. Há razões estruturais que ajudam a explicar mais esse perverso ângulo de um sistema em permanente crise. Estas podem até depender de ações de longo prazo, que envolvem as três instâncias do poder público do país, em providências para dar conta de crônicas demandas da Saúde em nível nacional. Mas há também, na exportação de doentes para o Rio, causas que se assentam em fatores conjunturais - como o mau gerenciamento de recursos existentes, a opção por anêmicos investimentos nas redes públicas de atendimento e a óbvia percepção de que é mais fácil transferir problemas do que resolvê-los. Por trás dessa canhestra realidade administrativa há dados significativos: pelo menos 15 cidades fluminenses aplicam menos de um real por dia na saúde de cada um de seus habitantes (sete delas na Baixada). Em São Gonçalo, um dos municípios mais populosos do estado, o gasto com saúde por pessoa foi de R$ 0,57 em 2011. Nova Iguaçu, também densamente povoada, exportou ano passado 12.207 doentes, ou 33 por dia. Em Mesquita, deu-se o quadro mais grave: com o único hospital da cidade fechado há um ano, todos os 3.034 pacientes que dependiam de internação foram removidos para fora das fronteiras municipais. Na ponta que recebe esse contingente de doentes, o reflexo é direto. Num resignado desabafo, o secretário municipal de Saúde do Rio, Hans Dohmann, queixa-se: "A sensação que temos é que, quando abrimos uma nova unidade aqui (na cidade do Rio), uma se fecha num município vizinho." Por certo, é um quadro que, para ser mudado, implica ações locais, em nível municipal, e externas, da parte dos governos estadual e federal. Mas há também iniciativas que podem - e devem - ser feitas dentro dessa realidade que não sejam simplesmente encher vans com doentes e lavar as mãos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, agosto 22, 2012
Municípios agravam crise da Saúde transferindo doentes Editorial O Globo
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