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domingo, agosto 26, 2012

BCs voltam à carga Editorial da Folha


FOLHA DE SP - 26/08

Fed indica que pode seguir sinais emitidos pelo Banco Central Europeu e adotar nos EUA terceira rodada de ações inusuais de combate à crise



Após o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sinalizar que intervirá nos mercados de títulos de países da periferia da zona do euro, o Fed (banco central dos EUA) também indicou que retomará a iniciativa diante da lenta recuperação americana.

A julgar pela ata de sua última reunião, o comitê de política monetária do Fed deve optar por mais uma rodada de expansionismo. Só não fará isso se a economia mostrar, em breve, "substancial e sustentável fortalecimento".

Apesar das frustrações recentes, como o crescimento anualizado no segundo trimestre de mero 1,5%, a expectativa é de ligeira melhora no restante do ano. Espera-se alta do PIB anual americano um pouco acima de 2% -insuficiente, porém, para reduzir o desemprego e aproximar a economia da plena utilização de sua capacidade.

Daí a intenção de afrouxar ainda mais as condições monetárias. Com juros básicos próximos de zero há quase quatro anos, isso só será possível por meio de ações heterodoxas, em particular a compra de títulos públicos em mãos de particulares, o que libera capital para alocação em papéis privados e reduz -pelo aumento da procura- os custos de financiamento para bancos e empresas.

Se confirmada, será a terceira rodada de injeção de recursos na economia. A primeira, iniciada no fim de 2008, teve por foco as hipotecas -o Fed adquiriu títulos imobiliários no valor de US$ 1,25 trilhão para destravar esse mercado. A segunda intervenção ocorreu em 2010, com a compra de US$ 600 bilhões em títulos públicos.

Outra medida de estímulo do Fed aos mercados foi explicitar, no ano passado, um compromisso de não aumentar os juros até 2014. Esse tipo de comunicação tem sido empregado pelo BC americano para manter em baixa os custos de financiamento, que dependem das expectativas futuras para os juros básicos.

Acredita-se que o próximo passo do Fed seria condicionar uma futura elevação da taxa básica de juros não apenas a um determinado prazo, provavelmente 2015, mas também ao desempenho da economia -em especial o nível de desemprego, atualmente em 8,3%. Isto é, os juros só subiriam quando o desemprego caísse para um patamar muito abaixo do atual.

Seja como for, é controverso o impacto dessas ações sobre a atividade econômica. Certamente há um efeito, na medida em que a injeção de dinheiro contribui para reduzir o risco de novo curto-circuito financeiro e o custo dos empréstimos. Bem mais duvidoso é seu impacto na disposição do setor privado a investir e consumir.

É essa percepção quanto ao limites das medidas usuais que leva à experimentação cada vez mais aberta nos bancos centrais. O Banco da Inglaterra, por exemplo, já vai além: adotou um programa que financia bancos a taxas abaixo do mercado desde que eles repassem os recursos. Estuda, ainda, a compra direta de papéis de empresas.

A ressaca da crise, todos conseguem ver, está longe de passar. A economia mundial continua anêmica, e as projeções de crescimento, em quase todos as praças, deprimidas. No Brasil, que não é uma ilha, suspeita-se que a taxa básica Selic vá permanecer baixa por ainda muito tempo.

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