O GLOBO - 30/08
O megapacote de logística elaborado pelo governo federal destinará bilhões de reais para obras em milhares de quilômetros de estradas, como o trem-bala Rio-São Paulo.
Se o Plano de Metas de JK foi lembrado, mais uma vez ciência, tecnologia e educação ficaram esquecidas. Com efeito, hoje, quinta economia mundial, o Brasil exibe em sua psique vícios que nos remetem aos anos 50, quando elas ainda não eram ativos a serem mobilizados.
Mas outros países a elas recorreram para superar seu atraso histórico. Em 1989, a Coreia do Sul criou um instituto de pesquisas (KRRI) para, entre outras missões, buscar o desenvolvimento de trens de alta velocidade. Hoje, resolvido com tecnologia própria o gargalo na ligação Seul-Busan, a Coreia tenta nos vender o pacote do trem-bala.
Na Austrália, a comoção nacional pelo fiasco nas Olimpíadas de Montreal levou à criação, em 1981, de um instituto para os esportes (AIS).
Nesse centro de excelência em medicina e fisiologia esportivas, técnicos de diferentes áreas buscam aprimorar atletas e tornar a prática de esportes componente de saúde pública. Seu sucesso mostra como o conhecimento pode servir a um objetivo nacional.
Ciência e educação foram os eixos da China moderna, surgida em 1978. À época, em face da escassez de quadros, foi priorizado o acesso a produtos mais modernos enquanto se investia na formação de engenheiros e pesquisadores. Hoje, exigências progressivas de transferência de tecnologia passam a ser feitas para a instalação de empresas estrangeiras.
E quanto a nós? Centros de competência em tecnologia de transportes estão previstos no pacote anunciado, ou vamos comprar "caixas-pretas", financiando o conhecimento no exterior? E nosso esforço para a Copa 2014 e a Rio 2016 se resume a estádios e infraestrutura? Onde estão os centros de treinamento para forma
A atenção para com ciência, tecnologia e educação parece ausente de algumas mesas importantes em Brasília. O orçamento do MCTI caminha para o terceiro ano de reduções consecutivas. A aposta de que os royalties do petróleo seriam destinados a educação, ciência e tecnologia se mostra ilusória. As universidades federais param por 100 dias sob a indiferença dos que veem nisso mera questão sindical. E, hoje, vem do MEC a ideia da eliminação de disciplinas como física, química e biologia de nosso ensino médio.
Poderíamos copiar algo dos países que deram certo. Eles não "gastam" com ciência, tecnologia e educação para que pareçam modernos. Ao contrário: o investimento prioritário nessas áreas contribuiu para que se tornassem modernos. Como o pulo do sapo ("Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão" , Guimarães Rosa, em "A hora e vez de Augusto Matraga") , a prioridade para ciência e educação não se fez por belezura, mas sim por necessidade.