O Globo - 01/08/2011
O GLOBO deu em manchete (27/7) que o Dnit foi todo loteado por partidos nos estados. Há 26 anos, no Brasil recém-redemocratizado, passei por experiência parecida como presidente do IBGE. Rememorá-la contribui para entender as dificuldades que permanecem no caminho da democratização do país. Em maio de 1995, assumi a presidência do IBGE, por indicação do ministro do Planejamento, João Sayad. Tomei então conhecimento dos detalhes do acordo constitutivo da Aliança Democrática, formada para permitir a eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney para, respectivamente, presidente e vice-presidente da Nova República. O acordo previa, entre outras coisas, o direito de nomeação dos delegados estaduais do IBGE pelos deputados pertencentes aos partidos políticos que estavam assumindo os respectivos governos estaduais. Assustado com os prejuízos que isso poderia causar à administração do IBGE, reuni os principais executivos do órgão. Ao fim de uma reunião que se prolongou por dois dias, envolvendo contactos com as representações do IBGE em cada um dos estados da Federação, elaboramos a lista dos novos delegados estaduais do IBGE, os quais nomeei no dia seguinte, sem maiores consultas políticas. Bastou a divulgação dos nomes dos novos delegados nos estados para que imediatamente os três líderes nacionais da Aliança Democrática telefonassem, dizendo-me que as nomeações punham em risco a redemocratização do país e que eu tinha que voltar atrás. Junto com Sayad, acordamos com os líderes políticos que as nomeações iriam ser desfeitas, mas que as indicações políticas para delegados estaduais teriam que se restringir aos funcionários do próprio IBGE. Nosso principal argumento foi que, além do primado da política, a redemocratização tinha também que se basear na meritocracia e na valorização do funcionalismo. Ato contínuo, instruímos todos ex-indicados a conseguir apoio político local, para que pudessem voltar a ser nomeados para delegados. Seguiu-se uma longa batalha de "deputados vs. delegados", a qual ocupou boa parte dos seis meses seguintes de minha presidência no IBGE. Ao fim da batalha, quase todos funcionários que haviam sido originalmente escolhidos para delegado foram renomeados, com apenas duas exceções, se não me falha a memória. Uma foi no Maranhão, onde familiares do presidente da República indicaram um pastor protestante para delegado estadual. Outra foi no Rio Grande do Sul, onde os próprios funcionários locais do IBGE manifestaram sua preferência pelo indicado político, um geógrafo competente, que não era então dos quadros do instituto. Pano rápido do IBGE de ontem para o Dnit de hoje. O contexto é diferente. Lá atrás, só estava em jogo o prestígio dos políticos em fazer nomeações que podiam se contrapor ao princípio da eficiência na administração pública. Agora, ademais, há as gordas comissões das empreiteiras no meio do caminho. Não basta, pois, profissionalizar a administração superior do Dnit e assegurar que seus representantes nos Estados sejam funcionários de carreira, como ocorreu no IBGE. Isso ajuda, é claro. Mas a redemocratização do país continua capenga se também não forem implantados novos mecanismos de licitação e de administração de obras, mais eficientes e menos sujeitos à corrupção do que os atuais.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
agosto
(223)
- Três espantos - Míriam Leitão
- Muita sede ao pote Dora Kramer
- Agora nem confissão condena malfeitor José Nêumanne
- Cafezinhos e parábolas Roberto Damatta
- Embromação 29 Rolf Kuntz
- Falta de respeito Merval Pereira
- A hora dos juros Celso Ming
- Boa promessa MÍRIAM LEITÃO
- Governo poupa a loteria federal VINICIUS TORRES FR...
- É o novo mix Celso Ming
- Ilegal legitimado Dora Kramer
- A jabuticaba explicada Merval Pereira
- Bom, bonito... e barato? Adriano Pires
- Dize-me com quem andas Paulo Brossard
- Nova liderança no etanol EDITORIAL O ESTADO DE SÃ...
- Democracia e moralidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- Não tem nada de mais CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Adeus à faxineira RICARDO NOBLAT
- Não em nome do Brasil JOSÉ SERRA
- A sustentável leveza dos setentões GAUDÊNCIO TORQUATO
- Noivas em fuga MÍRIAM LEITÃO
- A César o que é de César SERGIO AUGUSTO
- Um programa de oposição radical VINÍCIUS TORRES F...
- Uma experiência radical FERREIRA GULLAR
- Jabuticaba eleitoral MERVAL PEREIRA
- Certos momentos DANUZA LEÃO
- Eles adiam o que a gente faz ALBERTO TAMER
- As voltas que o mundo dá SUELY CALDAS
- Arrumar sótãos e porões LYA LUFT
- Paixão oficial J. R. GUZZO
- O Poderoso Chefão REVISTA VEJA
- A classe média ganha força Celso Ming
- Pé na estrada Dora Kramer
- O problema Perry de Bernanke PAUL KRUGMAN
- A classe média ganha força CELSO MING
- Um erro perigoso MÍRIAM LEITÃO
- A presidente Dilma e o governo-conluio RUBENS FIGU...
- Distorções MERVAL PEREIRA
- Uma mão suja outra Dora Kramer -
- A nova Líbia MÍRIAM LEITÃO
- Faxina agrária XICO GRAZIANO
- Nova postura CELSO MING
- Mais do mesmo MERVAL PEREIRA
- De gestora a faxineira MARCO ANTONIO VILLA
- Ainda não é o fim do capitalismo ANTONIO DELFIM NETTO
- O voo do oligarca FERNANDO DE BARROS E SILVA
- De pipoca e refrigerante ALON FEUERWERKE
- A diversificada tecnologia da corrupção EDITORIAL ...
- Fruta de entressafra Dora Kramer
- O que houve? - Paulo Brossard
- Os sem-iPad LUIZ FELIPE PONDÉ
- Radiografia da corrupção CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- O dilema de Dilma EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- O herói e o antagonista-Ruy Fabiano
- Entrevista - Jarbas Vasconcelos:
- Sólido e vulnerável MÍRIAM LEITÃO
- O papel de Dilma MERVAL PEREIRA
- Em time que está ganhando... FERREIRA GULLAR
- Acelera, Dilma DANUZA LEÃO
- Gritos e sussurros na economia VINICIUS TORRES FREIRE
- Jogo de cena FERNANDO DE BARROS E SILVA
- O éden ao lado do inferno Gaudêncio Torquato
- Percepções do Brasil no mundo Celso Lafer
- Dedicação exclusiva a - O Estado de S.Paulo Editorial
- Receita de ex-presidente Ruy Fabiano
- Isso não vai dar muito certo João Ubaldo Ribeiro
- O modelo precisa mudar Suely Caldas
- Brasil pronto para o pior Alberto Tamer
- Remédio duvidoso Celso Ming
- Sem pai nem mãe Dora Kramer
- Economia dita tom político João Bosco Rabello -
- A crise de 2011 é a mais grave de todas LUIZ FELIP...
- Maré vermelha MÍRIAM LEITÃO
- Solução distante CELSO MING
- Seremos algum dia japoneses? RUTH DE AQUINO
- Agricultura tropical e saúde KÁTIA ABREU
- Mobilização MERVAL PEREIRA
- O Planalto, a PF e as prisões escandalosas FÁBIO T...
- Dilmuska FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Crise, comida, ferro e petróleo VINICIUS TORRES FR...
- Copa do Mundo, entre laranjas e ONGs FERNANDO GABE...
- Apoios à faxina MERVAL PEREIRA
- Modo crise MÍRIAM LEITÃO
- Para valer? LUIZ GARCIA
- Quem demitiu o ministro? O Estado de S. Paulo-Edit...
- Um toque de pudor Dora Kramer
- Treme-treme Celso Ming
- Turismo de mosca é no lixo Nelson Motta
- A fantasia de ver a crise como solução Rogério L. ...
- ''Corrupção atinge níveis inimagináveis'', dizem d...
- EUA e a crise ANTONIO DELFIM NETTO
- Dilma, a diarista, e sua vassoura VINICIUS TORRES ...
- Verdadeira ameaça MÍRIAM LEITÃO
- Para que trocar o ladrão descoberto pelo incerto? ...
- Sem expectativa Merval Pereira
- Prova dos nove - Dora Kramer
- Pragas da política Rolf Kuntz
- Eurogovernança Celso Ming
- De cabeça para baixo Roberto Damatta
- Os erros argentinos MÍRIAM LEITÃO
-
▼
agosto
(223)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA