O Estado de S. Paulo - 14/04/2010
Economia aquecida
O setor produtivo está cada vez mais aquecido. É o que vêm apontando os principais medidores da atividade econômica do País. Sobra alguma polêmica sobre se esse aumento da temperatura já está ou não produzindo uma inflação para além da meta admitida pelo governo.
Um a um, os departamentos econômicos dos bancos e das grandes empresas vão revendo o desempenho do PIB deste ano para acima dos 6%. A Pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central entre 100 instituições, vai projetando um avanço para 5,6%, número que vem crescendo desde o início de março.
Na semana passada, o IBGE e a Conab recalcularam a produção de grãos para níveis recordes, que terá a vantagem dos bons preços das commodities no mercado internacional.
A indústria, por sua vez, vai acusando um aumento da produção de 17,2% (dados do IBGE). Na semana passada, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) verificou em sua pesquisa de emprego industrial que, nos 14 subsetores que acompanha, as condições de emprego ou estão equivalentes ou melhores do que antes da crise. Em março, conferiu ainda a FGV, o emprego industrial atingiu seu melhor nível dos últimos dez anos.
Ontem a Fiesp avisou que em março abriu mais 45 mil vagas de trabalho no Estado de São Paulo, o que dá um avanço de 1,37% em relação a fevereiro, já feitos os ajustes sazonais. Nenhum dos 22 subsetores da indústria paulista apontou redução de contratação. Esses números são consistentes com o índice de desocupação do IBGE, que chegou a 7,4% em fevereiro. Os jornais relatam escassez de mão de obra qualificada em praticamente todos os setores.
É por essas e outras razões que a campanha da redução da jornada de trabalho, de 44 horas para 40 horas semanais, vem numa hora imprópria. Se esse novo patamar for adotado, tenderá a derrubar ainda mais a competitividade do produto brasileiro diante do importado, especialmente do proveniente da Ásia, onde a jornada do trabalhador médio é superior a 50 horas semanais.
E, finalmente, o último Relatório de Inflação do Banco Central mostra um crescimento das vendas no varejo de 10,3% em termos anuais.
São informações ainda dispersas que apontam para uma forte atividade econômica no primeiro semestre, cujo ritmo tende a se intensificar à medida que o governo federal, os governadores e os prefeitos forem aumentando as obras públicas com o objetivo de convencer o eleitor a votar nos candidatos oficiais.
Não há mais dúvida de que o consumo está aquecido. Ainda há quem afirme que há ociosidade a ocupar no setor produtivo e que a continuação e o aprofundamento do aquecimento não trarão nenhum efeito nocivo. Mas aumentam as indicações de que essa gente está enganada e que há uma fornada de inflação quase pronta para ser servida.
Em outras palavras, a facilidade com que os preços vão saltando no varejo, especialmente na área de alimentos e serviços, parece indicar que os motores estão queimando óleo e que é preciso tirar um pouco o pé do acelerador.
CONFIRA
Morro abaixo
A demora da aprovação pelo Congresso das regras da capitalização da Petrobrás é uma das explicações da escorregada que os preços das ações estão sofrendo na Bolsa (veja gráfico). A outra é a falta de um Plano B consistente para colocar em marcha se o Congresso não votar o projeto de lei até meados de maio. Ao longo deste ano (até ontem), enquanto o Índice Bovespa teve uma valorização de 3,2%, as cotações das ações preferenciais nominativas da Petrobrás (PETR4) caíram 7,7%.
Entrevista:O Estado inteligente
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