Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 05, 2009

FMI alerta para aquecimento do mercado Alberto Tamer


O Estado de S. Paulo - 05/11/2009
A economia mundial continua dando sinais de recuperação com o retorno da atividade industrial, mas o FMI e o Banco Mundial fizeram um alerta, nesta semana. Cuidado para os efeitos já sensíveis dos juros baixos e um enorme afluxo de dinheiro no sistema financeiro mundial. Eles começam a provocar bolhas nos ativos financeiros nos mercados de ações imóveis e câmbio na China, Hong Kong, Indonésia, Cingapura. Nem o Vietnã escapa.

A epicentro parece Hong Kong, onde, a alta dos ativos está sendo impulsionada "por condições de liquidez de curto prazo sem relação com as forças fundamentais da oferta e a demanda". Traduzindo, dinheiro demais, trilhões de dólares, em grande parte emitidos pelos EUA, que entraram no mercado para salvar o sistema financeiro. Salvou, mas pode estar provocando um processo pouco de rápida saturação. É aquele famoso crescimento em V que os economistas usam para avaliar a evolução das crises. Num momento, os índices despencam, a perna descendente do V, e depois sobem como um rojão. Só que podem não se sustenta lá em cima. Os investidores estariam reduzindo a aversão ao risco, comprando papéis que tinham saído do mercado com a eclosão da crise.

FENÔMENO ISOLADO?

Pode ser, mas merece atenção, afirmam o FMI e o Banco Mundial. Decorre de dois fatores decisivos num mercado globalizado: taxa de juros baixas nos EUA e excesso de liquidez.

Stephen Cecchetti, economista-chefe do Banco para Compensações Internacionais, BIS, uma espécie de banco central dos bancos, mostra o mecanismo das operações, na verdade já rotineiro no mercado. Ele começa com o juro baixo nos EUA. Em busca de rendimento maior, os investidores tomam emprestado em dólar e "amontoam o dinheiro nos países que estão crescendo mais rápido", que têm taxas de juros e rendimento maiores. O resultado é uma transferência hoje maciça de recursos dos países desenvolvidos, EUA, zona do euro, mais afetados pela recessão, para os que estão se saindo bem.

"Isso aumenta o risco de criar booms de imóveis e ações nesses países",afirma o economista-chefe do BIS. Somente neste ano os fundos de ações já destinaram aos países emergentes cerca de US$ 50 bilhões. O índice MS-CI Barra desses mercados já havia se valorizado 60,7% até segunda-feira, cita o Wall Street Journal.

Continua entrando dinheiro demais num mercado que se aqueceu rápido demais. Uma distorção para a qual o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn chamou atenção nesta semana.

Por isso, a principio, o Fundo não se opõe a que os países emergentes apliquem medidas para controlar o fluxo de capitais a fim de evitar bolhas. Não é uma questão ideológica, diz ele.

O Fundo não recomenda essa medida como "prescrição padrão". Elas implicam custos elevados, como a forte valorização da moeda local, com as consequências clássicas sobre o comércio exterior, como queda das exportações e alta das importações. Mais ainda, neste momento de elevada liquidez, podem ser pouco efetivas. As barreiras não resistem à avalanche de dólares. No caso do Brasil, o fluxo líquido, em outubro, de US$ 14,5 bilhões, foi o maior desde 2007. E esse ritmo se manteve na última semana, com o IOF de 2%. No fundo, serviu para sinalizar ao mercado que o governo está atento.

BRASIL, ASSUNTO À PARTE

Outro alerta do FMI é que o endividamento dos países ricos deve manter-se em níveis elevados ainda por alguns anos e, em consequência, os juros também terão de aumentar. Carlo Cottarelli, diretor de Assuntos Fiscais do Fundo, prevê 2% em 2014, mesmo porque os países atingidos pela recessão não devem começar a fazer aperto fiscal agora.

No Brasil, os efeitos da crise e dos juros mais altos no mercado internacional serão menores. As taxas atuais são elevadas, oferecendo margem a revisões sem repercutir muito sobre o crescimento, a inflação e o ajuste fiscal. Para o Fundo, a relação entre dívida e PIB tende a cair "e não é preocupação iminente, mas o governo deveria retomar esforços para reduzi-la".

Pelo menos por enquanto, parece ser essa a intenção da equipe econômica. Até agora não tem faltado bom senso em Brasília. A questão é saber se terá força para continuar assim.

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