Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 05, 2009

Poupança fraca Celso Ming

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O Estado de S. Paulo - 05/11/2009
Demorou para que os analistas entendessem que, além da saúva, um dos principais males do Brasil é o baixo nível de poupança, que em geral não ultrapassa 16% ou 17% do PIB, enquanto a maioria dos países asiáticos poupa em torno de 35% e a China, campeã em poupança, vai para incríveis 44% do PIB.

Esse fato é mais impressionante quando se considera que o trabalhador chinês ganha uma ninharia. Há alguns anos, quando assumia mais o discurso sindicalista do que o da escalada bolivariana na América Latina, o atual assessor especial de Política Externa da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sempre que podia observava que o salário chinês era tão baixo que o regime de trabalho da China deveria ser considerado semiescravidão. E, no entanto, ainda que ganhando como semiescravo, o trabalhador médio chinês poupa mais de 40% do que ganha.

O alto padrão de poupança exibido pelos países asiáticos é a principal razão pela qual é descabida a insistente recomendação de alguns economistas de que a economia brasileira deva adotar o modelo asiático de desenvolvimento, especialmente na condução da política cambial. Quem poupa muito consome pouco e não pode contar com aposentadoria financiada pelo setor público, como acontece na China. E quem consome pouco ou dispensa capital estrangeiro ou determina onde ele pode ser investido, como também faz a China.

O brasileiro adora consumir e faz questão de um regime previdenciário gastador. O funcionário público, por exemplo, passa cerca de 25 anos contribuindo com 10% do seu salário para receber aposentadoria equivalente ao salário integral pelos 30 a 40 anos restantes de sua vida e ainda acha que o Estado (ou a sociedade) está pagando uma insignificância pelos valiosos serviços prestados durante seu tempo de ativa.

O baixo nível de poupança do Brasil é o principal entrave ao desenvolvimento econômico. Quem poupa pouco investe pouco, e quem investe pouco tem de se contentar com um crescimento econômico proporcional ao tamanho do investimento. É por isso que a China pode garantir um avanço do PIB da ordem de 10% ao ano e o Brasil, num período bom, não consegue emplacar mais do que 5%.

E não é só isso. Para obter crescimento econômico sustentável é preciso garantir poupança externa, que se faz ou por meio do endividamento externo ou por meio do aumento dos investimentos estrangeiros. E, num momento como o atual, em que não há o que chegue para financiar os projetos do pré-sal e do PAC, as obras da Copa do Mundo de 2014 e as da Olimpíada de 2016, e num momento em que a ficha do Brasil ainda não foi indelevelmente deteriorada pela gastança pública, é óbvio que a substancial entrada de capitais estrangeiros concorre para a valorização do real e, consequentemente, para reduzir ainda mais a fraca competitividade do produto brasileiro.

O baixo nível de poupança do País é uma das mais importantes razões pelas quais os juros são o que são no Brasil. E os juros altos exigem que a administração das contas públicas seja mais rigorosa do que nos países ricos, de maneira a não provocar maior deterioração no perfil do endividamento público.

Se o Brasil colhe o que colhe é porque planta o que planta. As coisas têm consequência.

Confira

Mais texto - O Fed (banco central americano) manteve os juros próximos de zero por cento e indicou que a folga monetária continuará por um período prolongado. O texto veio mais longo e lá estão mais claras as condições da estratégia de saída.

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