O Globo
PANORAMA ECONÔMICO
O trem saiu da estação de Paddington, em Londres, exatamente às 13h06m previstos e chegou a Exeter 16 segundos antes das 15h21m. O resto da tarde eu ouviria falar de imprevisibilidades. Fui ao MetOffice, o Inpe da Inglaterra, conversar com climatologistas sobre mudanças climáticas. Com um computador capaz de fazer 125 trilhões de cálculos por segundo, eles dizem que é difícil prever o futuro.
Estou na Inglaterra a convite do governo britânico para conversas com especialistas, autoridades, professores, sociedade civil e empresas sobre as mudanças no clima.
“Bem vindos a bordo”, disse o assessor de imprensa. O prédio do MetOffice foi desenhado para lembrar, em alguns ângulos, um navio. Não qualquer navio, mas o Beagle, que levou Charles Darwin em sua viagem de estudos sobre a “Origem das espécies”. O capitão Robert FitzRoy, comandante do Beagle, foi o primeiro presidente do MetOffice, fundado em 1854.
Dos estudos do órgão sobre o futuro do planeta que abriga a nossa espécie, o que mais espanto causou recentemente foi o que tem um título sugestivo: “Quatro graus Celsius e além”.
Aprofunda o pior cenário e informa que ele pode ser superado.
Richard Betts, chefe do setor de Impactos do Clima, explicou que quatro graus de aumento de temperatura média não significa que o mundo inteiro terá o mesmo aquecimento.
O fenômeno ocorreria de forma desigual. Poderia chegar a 15 graus de elevação no Ártico, apressando o derretimento das geleiras, o que elevaria mais rapidamente a temperatura dos oceanos. Tudo é interligado.
A elevação da temperatura das águas do Atlântico Norte pode levar a seca na Amazônia como em 2005.
Climatologista é um ser cauteloso. Quando fala do futuro, teme qualquer afirmação peremptória. Diferente de economistas que gostam de no máximo três cenários, eles têm inúmeros.
Mesmo quando limitam em 23 modelos de previsão, como o deste estudo, a conclusão é perturbadora.
— O sistema climático é muito complexo — desculpase Betts quando peço mais certezas.
O problema é que agora os climatologistas estão no olho do furacão. O mundo exige deles mais do que a meteorologia, o clima das próximas horas; quer saber o que acontecerá com o planeta e a humanidade. A propósito, numa rápida passagem pelo departamento de previsão do tempo, fiquei sabendo que continuará chovendo em Londres, o que não chega a ser novidade.
Richard Betts e James Murphy, chefe do departamento de projeções de mudança climática, explicaram que os estudos estão ficando mais complexos, com novas variáveis como os feedbacks.
— Hoje parte das nossas emissões é capturada por florestas e pelo solo, então nós estamos sendo salvos dos seus efeitos. Mas o que acontecerá no futuro pode ser a exaustão dessa capacidade de absorção — disse Betts.
Isso realimentaria um círculo vicioso. Mais desmatamento, mais emissões, nos levaria a escalar os efeitos da mudança climática. Tornaria os piores cenários mais prováveis.
Esse aumento de temperatura seria catastrófico. O que o mundo está tentando, através de difíceis negociações, como a de Copenhague, no fim do ano, é limitar a dois graus o aumento.
Os cientistas ingleses explicam que ninguém pode pôr limite ao aumento de temperatura. Esse exercício das autoridades é apenas a forma como o mundo político traduz para a prática dos seus compromissos o que a ciência está dizendo. O que se pode limitar são as emissões.
Nisso podemos influir.
Ainda que reduzindo emissões a partir de 2013, para levar à emissão zero em 2060, o aquecimento global continuará por um bom tempo.
— O clima exige muito tempo para responder, por isso, o corte das emissões é tão urgente — disse Betts.
O MetOffice trabalha com alguns países em modelagens regionais. O Brasil é um deles.
A cientista Gillian Kay tem estudos feitos em parceria com o Inpe sobre os perigos que cercam o Brasil no contexto da mudança climática.
Como o Brasil é um país extenso, tudo pode acontecer.
Em alguns cenários há redução das chuvas na Amazônia, o que afetaria a floresta, e aumento das chuvas nos estados do Sul, que já vêm enfrentando enchentes nos últimos tempos.
Há um dilema dramático em relação à Amazônia. O desmatamento aumenta as emissões, mas o aquecimento global pode colocá-la em risco de qualquer maneira.
Fazer o que diante disso? O que Gillian e Betts explicam é que proteger a floresta é o melhor a fazer até porque os efeitos destrutivos do desmatamento criam mais perigos a curto prazo.
Diante daqueles slides coloridos mostrando os cenários possíveis de aumento de temperatura e seus efeitos sobre o clima de todo o planeta, qualquer leigo fica em pânico. Por isso foi um alívio ouvir Betts dizer: — Ainda há tempo de evitar o pior.
Fora isso, não ouvi muitas palavras tranquilizadoras no navio do MetOffice. A representante do Ministério do Exterior encerrou a reunião porque tínhamos que voltar a Londres. Corremos para a estação de Exeter. O trem atrasou 15 minutos. Hoje em dia, nem mesmo os trens ingleses são previsíveis.
oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br
COM ALVARO GRIBEL
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
outubro
(331)
- CESAR MAIA Narcovarejo
- CELSO MING - O preço eleitoral
- Dora Kramer A praxe do colegiado
- MERVAL PEREIRA - Ecologia, saída ou escape?
- Miriam Leitão Sinais de Honduras
- Carlos Vereza Pacifista às avessas
- Villas-Bôas Corrêa Catadores de papel e formadores...
- Eliane Cantanhêde Massacre na TV
- Veja Carta ao leitor
- Sucessão Marqueteiros já moldam o discurso de Dilma
- Drogas O desafio do crack
- Crise Os Estados Unidos saem da recessão
- IPI baixo só para eletrodomésticos eficientes
- Venezuela O desastre da estatização da economia
- Argentina De volta ao sistema bancário internaci...
- Honduras Pressão americana leva a um acordo
- Espaço Uma visão do início dos tempos
- Especial O apocalipse em 2012
- Saúde Marketing ajuda bancos de cordão umbilical
- Sociedade Manual da civilidade
- Educação Má gestão
- mprensa Lula agora quer editar os jornais
- VEJA Entrevista Robert Aumann
- Lya Luft Não fui eu!
- Radar Lauro Jardim
- Maílson da Nóbrega O estado voltou?
- Diogo Mainardi Manual de sabotagem
- Roberto Pompeu de Toledo Woody Allen no Rio
- AUGUSTO NUNES O PAC da Conversa Fiada
- Miriam Leitão É o fim da crise?
- Fernando Gabeira O ovo da serpente
- Merval Pereira A busca da utopia
- Transgenifobia Celso Ming
- No meio do caminho Dora Kramer
- É um lamentável fato consumado Rubens Ricupero
- Câmbio: mais lenha na fogueira LUIZ CARLOS MENDON...
- Bênção e maldição NELSON MOTTA
- A verdade única da transposição Washington Novaes
- Vinicius Torres Freire O pior dos mundos e fundos
- Celso Ming O salto no crédito
- Miriam Leitão Maquiagem verde
- José Nêumanne Freios e contrapesos, cheques e bala...
- Fernando Rodrigues DEM, biruta de aeroporto
- Dora Kramer Parceiros indóceis
- Merval Pereira Mulheres e terror
- Rituais vazios José Arthur Giannotti
- Míriam Leitão Papel da oposição
- Merval Pereira Além da guerra de religiões
- Editoriais 27/10/2009
- Visão de vanguarda - Dora Kramer
- O dólar, nos derivativos - Celso Ming
- Novo colonialismo ou novas oportunidades? Rubens B...
- Só o Brasil tem armas para crescer mais este ano A...
- A censura está de volta Roberto Muylaert
- VINICIUS TORRES FREIRE Quem é bom de bolha?
- ELIANE CANTANHÊDE Fiscalização já!
- Qual Estado para qual democracia? Lourdes Sola
- O paradoxo que complica Suely Caldas
- Luiz Carlos Mendonça de Barros Um olhar - preocupa...
- RUY CASTRO O pé não esquece
- FERNANDO RODRIGUES Hegemonia em construção
- Os mistérios da redenção segundo Lula José Augusto...
- Excesso ou regra? DENIS LERRER ROSENFIELD
- Ricardo Noblat -Quem se importa?
- DANUZA LEÃO O pior inimigo é o falso amigo
- FERREIRA GULLAR Beleza não põe mesa
- Adeus, macroeconomia ELI NOAM
- VINICIUS TORRES FREIRE A bolha e a balbúrdia no g...
- Lembram-se quando afirmei que Obama era a chegada ...
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ Removiendo en los submundos d...
- MARIANO GRONDONA La fuerza y la violencia en nuest...
- Miriam Leitão O destino do Rio
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Singrando os ares
- Camisa de força
- Lula e o desconforto das leis
- Ruy Fabiano -O paradoxo chamado Serra
- O direito à violação Mauro Chaves
- Câmbio chinês ameaça economia mundial PAUL KRUGMAN
- CESAR MAIA Voto da direita
- DORA KRAMER - Companheiro Iscariotes
- CELSO MING - Problemas no biodiesel
- Miriam Leitão Fim da era dólar?
- VEJA CARTA ao leitor
- Entrevista Paulo Renato Souza
- Claudio de Moura Castro
- Radar
- O gangsterismo explícito nas entidades de classe
- Dilma pavimenta a estrada rumo a 2010
- As consequências da taxação do capital externo
- O terceiro mandato de Daniel Ortega
- Uma só encrenca
- O papa abre as portas aos anglicanos
- Tomadas e plugues vão mudar
- Verdades incômodas sobre o crime no Rio
- Centro analisa exames a distância
- O minicarro elétrico de Jaime Lerner
- Fogo no acervo de Hélio Oiticica
- Às Cegas, de Claudio Magris
- Perfil do compositor J. Adams
- Boatos sobre a morte de Kanye West tumultuam a rede
-
▼
outubro
(331)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA