Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 02, 2008

“Quousque tandem, Dilma, abutere patientia nostra?”

“Quousque tandem, Dilma, abutere patientia nostra?”

Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online. Volto depois:
Em discurso no plenário do Senado, o senador Mão Santa (PMDB-PI) chamou hoje a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de "galinha cacarejadora" ao afirmar que ela prefere defender insistentemente as obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) do governo federal ao invés de esclarecer o vazamento de informações do suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Só há uma culpada nisso tudinho: é a ministra Dilma. Se nós formos buscar na história de Hitler, eles dizem que Goebbels [um dos principais nomes do partido nazista alemão] orientava o partido dele até uma galinha cacarejadora para ficar gritando: as obras, as obras, as obras --antes de fazer e depois. Isso aí, esse negócio de apelido é outro. Ela [Dilma] pode ser muito bem a galinha cacarejadora desse governo. A história se repete", afirmou.
A frase de Mão Santa arrancou protestos da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). A senadora disse que o peemedebista foi preconceituoso ao comparar a ministra a uma galinha. Ideli ameaçou adotar medidas "cabíveis" contra o senador, assim como a própria ministra Dilma --mas não adiantou quais serão as ações movidas pelo governo.
"Eu não vou admitir, como mulher, que no debate político trate-se qualquer mulher, por mais adversária, inimiga que seja, com esses termos aqui no plenário do Senado. Nós não estamos falando de nazista, se é o seu padrão. Nós estamos falando aqui de respeito mínimo entre homens e mulheres. Quer fazer o debate político, faça com classe e com dignidade e não utilizando baixaria", reagiu.
Ideli chegou a bater boca com Mão Santa e o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) no plenário do Senado. O senador Romeu Tuma (PTB-SP), que presidia a sessão, teve que ameaçar suspender o trabalho devido aos ânimos exaltados dos parlamentares.
"Desliguei o microfone, porque está sendo denegrida a imagem do Senado. Eu pediria calma para cada um requerer o que quiser sem agressão. Vamos agir com calma, senão vou encerrar a sessão. Não vejo razão para continuar esse estado de nervos que surgiu repentinamente", disse.
A discussão só foi encerrada depois que a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE) sugeriu que Mão Santa retirasse das notas taquigráficas do Senado a expressão "galinha cacarejadora".
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também defendeu a retirada da expressão dos registros da Casa. "Tenho certeza de que algo que sempre marcou a presença do senador Mão Santa, nas suas freqüentes idas à tribuna da Casa, foi o respeito à mulher. Vou deixar bem claro: acho que realmente o senador deve pedir, ele próprio [para retirar a expressão]. A ministra Dilma Rousseff deve merecer de todos nós o respeito que devemos à mulher, que devemos ao ser humano, que devemos ao adversário e que devemos ao aliado", afirmou o tucano.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Dilma não comentou a declaração de Mão Santa.

Comento
Ah, Ideli Salvatti!!!

Eu também prefiro o senador Mão Santa quando ele cita Cícero; Demóstenes; Júlio César; Catão; Quintiliano; Plínio, o Velho; Plínio, o Moço... Melhor deixar as metáforas zoológicas pra eles, senador! Mas tenho de sair em defesa do senador, não de sua metáfora.

É claro que ele não estava chamando a ministra de “galinha” no sentido usual, a metáfora corriqueira para, como dizer?, “mulheres excessivamente desinibidas”. Não pesa contra a ministra nem a mais remota suspeita sobre essa área — que eu saiba ao menos. Ao contrário até: tanto se fala de seu temperamento duro, irascível mesmo, inflexível, que, bem..., essas características maios criam dificuldades do que facilidades no terreno sentimental. Mão Santa, como eu, é um caboclo, né? Quando a gente fala de “galinha cacarejadora”, senadora Ideli, o sentido é outro: designa gente que garganteia feitos que não fez. Pode recolher seu feminismo, que está fora do lugar.

É por isso que Mão Santa pode não ter tido o gosto apurado das outras vezes, mas foi injusto é com a galinha. A bichinha só garganteia, só cacareja, quando bota ovo. No mais, tadinha, é de uma discrição até aborrecida. Mas o feito é real, entende? No caso do PAC, isso é “menas” verdade, para ficar na gramática ao gosto da casa. Leiam estas duas notas do Painel:

Empacou 1. Não bastasse o dossiê, há mais dor de cabeça à vista para a ministra Dilma Rousseff, "mãe do PAC". Responsável por analisar o andamento do programa a cada quadrimestre, o TCU acaba de divulgar acórdão de nova auditoria. Para o tribunal, tanto faz uma obra estar no PAC ou fora dele. A execução seria a mesma: baixa.
Empacou 2. Os dados auditados vão de maio a agosto de 2007. O TCU diz não entender como seria possível haver 80% de execução, dado apresentado pelo governo, se o desembolso orçamentário foi de apenas 12%.

O PAC é uma das grandes mistificações do governo Lula, como se vê.

A metáfora, pois, está plenamente explicada. Não há por que haver gritaria. Como sempre, a senadora Ideli Salvatti espetaculariza o irrelevante para tentar esconder o essencial. É muito próprio de sua atuação.

Mas tudo bem, Senador, retome lá o seu Cícero de sempre, das Catilinárias. Faça as suas “Dilmárias”:
“Quousque tandem, Dilma, abutere patientia nostra?”
"Até quando, Dilma, abusarás da nossa paciência?"

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