O GLOBO - 12/10
O número positivo de 0,98% no índice de atividade do Banco Central mostra que chegou ao fim o atual vale da economia brasileira. Ela começa a se recuperar e isso deve continuar nos próximos meses. Será a reação tardia a um conjunto forte de estímulos monetários e fiscais que ainda continuarão fazendo efeito. O espaço para usar a mesma ferramenta acabou.
A nota do Banco Central ao fim da reunião do Copom e a divisão da diretoria em torno da taxa de juros mostram que esse longo ciclo de redução da Selic chegou ao fim. É a menor taxa de juros desde que se pode comparar. Isso é bom, mas melhor seria se os preços estivessem no lugar. A inflação ainda permanece desconfortavelmente acima do centro da meta.
O grupo de dirigentes do Banco Central que votou pela décima redução dos juros está convencido que a inflação voltará a cair, naturalmente, passado o efeito da alta dos preços nos alimentos provocada pela seca nos Estados Unidos. Pode sim cair, mas a tendência de médio prazo é de os alimentos continuarem pressionando. Esse é o oitavo ano em que eventos climáticos extremos afetam as safras de commodities importantes. Nos Estados Unidos, o que houve este ano foi um choque agrícola intenso que reduziu os estoques. Preço de alimento sempre oscila, mas a alta não é mais um fato isolado. Virou uma variável de enorme imprevisibilidade.
Como o nível de atividade agora vai começar a se recuperar, a tendência é pressionar outros preços que estavam compensando a elevação dos alimentos. O desafio em 2013 será manter a inflação baixa sem ter que elevar os juros, já que o contexto, felizmente, será de crescimento econômico melhor do que 2012.
O Brasil vai crescer menos que o mundo pelo segundo ano consecutivo. As previsões econômicas revistas esta semana pelo FMI mostraram que o desempenho do país está sendo realmente muito fraco em 2012. O 1,5% previsto pelo Fundo é menos da metade dos 3,3% do mundo, menos que os 2% dos Estados Unidos, e um dos piores números da América Latina.
A boa notícia é que o índice mensal de atividade econômica que o Banco Central divulga vem mostrando recuperação e o dado anunciado ontem, referente a agosto, é de quase 1% sobre julho e 3,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.
A indústria já vem dando sinais de recuperação nos últimos três meses, acumulando alta de 2,3%. O dado de ontem do comércio foi melhor um pouco do que o esperado. Depois da forte alta de julho, o mercado esperava uma pequena retração, mas o número veio positivo em 0,2%. Em relação a agosto de 2011, o crescimento foi de 10,1%. O setor de supermercados, que tem o maior peso no índice, caiu 1,1% sobre julho e foi culpa exatamente da alta de preços. Com a inflação de alimentos o consumidor diminuiu os itens do carrinho de compras.
Esse comportamento do consumidor já mostra que o BC vai errar se considerar que pode ser um pouco mais tolerante com a inflação para reativar mais rapidamente a economia. O olhar tem que ser o oposto: para garantir por mais tempo a recuperação que começa agora ele terá que manter a inflação baixa. Preços quando sobem derrubam crescimento, como o Brasil já aprendeu.
Em momentos de pressão inflacionária no passado recente, a valorização do real ajudou a segurar o índice. Agora, o dólar está em R$ 2,00 e o governo não quer que haja altas do real que reduzam a competitividade das exportações brasileiras.
O erro fatal será passar a impressão de que o Banco Central não tem liberdade para fazer política monetária. Isso aumentaria as apostas na alta da inflação.