Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 18, 2012

Segundo round - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 18/10

Mais importante do que saber que Barack Obama ganhou o segundo debate é entender que proposta econômica está por trás de cada candidato. A distância entre Obama e Mitt Romney é maior do que era entre o atual presidente e o republicano que ele derrotou em 2008. E é um momento decisivo para a economia americana e mundial porque é o começo da recuperação.

Na área da energia, a grande diferença está marcada na defesa do carvão, feita por Romney. Ele diz que adora "carvão limpo", mas a tecnologia dessa limpeza é controversa. No governo Obama, os EUA estão reduzindo emissões de gases de efeito estufa, mas ele nem usou esse argumento. Seu projeto de investimento em fontes alternativas, como solar e eólica, é importante, mas a participação na matriz energética ainda é pequena. O que tem mudado é o aumento do gás extraído da rocha de xisto, que tem impacto ainda não suficientemente estudado sobre o meio ambiente. A extração pode contaminar o lençol freático.

Romney, em termos de energia e de combate às mudanças climáticas, significará um retrocesso para o mundo. E isso é tudo o que não se quer. Os progressos foram menores do que se esperava na era Obama. Perder esses poucos avanços é assustador.

Obama defendeu sua política para a indústria de automóveis e disse que seu adversário a deixaria falir. As empresas quebraram no colo de Obama como parte da herança que recebeu do governo anterior. Sua saída foi dar dinheiro público em volumes exorbitantes para a indústria. O governo virou o maior acionista da General Motors. Depois, fez mudanças que induziram uma renovação. Romney, disse Obama, deixaria a indústria falir. O candidato republicano argumentou que seria uma destruição que levaria a uma indústria mais competitiva no futuro.

A ortodoxia econômica de Romney não faz dele um defensor do livre comércio. Todo o discurso que ele fez no debate ameaçando a China por tomar empregos americanos pode se voltar contra outros países. É mais popular na campanha atacar a China. No entanto, se for eleito, Romney logo descobrirá a estranha relação simbiótica entre os dois países. Barreiras contra a China podem significar redução da exportação dos Estados Unidos.

Na questão do emprego, o debate ficou vago, como sempre. Obama disse que criou cinco milhões de vagas e que reduziu a taxa de desemprego. Romney alega que a queda do desemprego foi causada pela redução do número de pessoas procurando colocação. É verdade que aumentou a oferta de emprego no governo Obama, mas também é verdade que o índice permanece tão elevado que muitos desistiram de procurar trabalho.

Romney está, em termos econômicos e políticos, à direita de John McCain, que disputou com Obama na última eleição. O ex-governador de Massachusetts teve que ir mais para a direita, com a escolha do vice, Paul Ryan, pelo movimento de radicalização do partido desde que surgiu o Tea Party.

Obama defendeu seu governo dizendo que fez a mais forte regulação do mercado financeiro desde 1930. De fato, ele conseguiu aprovar a duras penas novas regras de supervisão e controle dos bancos.

Ponto curioso do debate é que Obama tem um passado democrata recente a lembrar: os anos Clinton. Já Romney quando fala do passado republicano ressalta os anos Reagan. Isso o faz merecedor da medalha olímpica de salto à distância, porque tem que pular sobre três mandatos George Bush: um do pai e dois do filho.

O ponto importante da escolha é que, com todas as falhas, Obama tem persistido no caminho da recuperação da economia. Romney disse que tudo será diferente, mas não diz exatamente como.

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