Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 24, 2012
Capitais estratégicos - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 24/10
Há meses, análises de várias tendências repetem que a economia brasileira já não é mais a mesma e que outros emergentes, sobretudo o México, vêm ocupando a posição de novo queridinho dos investidores internacionais. Mas as contas externas seguem desmentindo essas conclusões. A entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED), por exemplo, se mantém forte e deverá fechar este ano mais ou menos nos mesmos níveis do ano passado, quando somou US$ 66,6 bilhões.
O Brasil é uma economia dependente do investimento estrangeiro. Consome demais e poupa pouco. E, porque poupa pouco (cerca de 17% do PIB), investe também pouco (outros 17% do PIB). Para um país emergente é uma grave limitação. Só para comparar, a China investe perto de 51% do PIB e o padrão asiático é acima dos 30% do PIB.
Somando o investimento brasileiro no País mais o estrangeiro, o total não chega a 20% do PIB. Isso impõe séria trava à economia: baixo crescimento. Caso queira avançar cerca de 4,0% ao ano de forma sustentada, o Brasil teria de investir pelo menos 22% do PIB.
O que fazer para estimular o investimento é assunto para outra oportunidade. O importante agora é reconhecer que o IED é estratégico não só para assegurar o fechamento das contas externas, mas também para complementar o investimento necessário para a economia andar.
Essa dependência original desemboca em outra: é preciso aceitar um rombo nos negócios com bens e serviços com o exterior (déficit em Conta Corrente). Em outras palavras, se precisa dos investimentos estrangeiros para seu crescimento econômico, o Brasil tem também de se conformar com um saldo negativo constante em Contas Correntes. Fácil entender: o volume de moeda estrangeira que entra a mais na Conta de Capitais (especialmente em IED) tem de ser compensado por uma saída a mais nas Contas Correntes. Não houvesse essa compensação, a entrada de dólares no câmbio interno superaria em muito a saída. Assim, a cotação do dólar despencaria em reais e o principal resultado seria a acentuada perda de competitividade do setor produtivo.
Por enquanto, esse rombo externo em Conta Corrente vem sendo confortavelmente coberto pelo IED. Em 2011, por exemplo, o déficit em Conta Corrente foi de US$ 52,5 bilhões e o IED, de US$ 66,6 bilhões. Neste ano, as projeções do Banco Central apontam para um déficit em Conta Corrente de US$ 53 bilhões e um IED de US$ 60 bilhões - mas pode ser alguma coisa mais alto, como já ficou dito.
A novidade é que já não é a indústria que está merecendo as preferências do investidor externo. A compra da Amil, principal administradora brasileira de planos de saúde, pela americana United Health, é somente um caso entre muitos. A tabela que vai no Confiramostra que nada menos que 44,7% do IED acumulado até setembro foi para a área de serviços.
No final de setembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez um apelo aos empresários ingleses: "Invistam no Brasil na área de serviços". Seu objetivo declarado era elevar o nível de concorrência nesse setor. Se a concorrência está ou não aumentando, não dá para saber. Mas os capitais estão chegando cada vez mais para o setor.
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