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terça-feira, julho 03, 2012
PSB e PT, pouco a ver - MERVAL PEREIRA
O Globo - 03/07
Que o relacionamento do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com o PT não é essa maravilha toda, não há quem desconheça entre os que lidam com a política. Mas a explicitação de um projeto político autônomo que parece estar sendo desenhado desde já, na armação das alianças eleitorais para a eleição municipal, não agradou aos dirigentes socialistas.
O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, soltou ontem uma enorme nota oficial para desmentir que seu partido esteja alimentando voos mais altos, como vários comentaristas, inclusive eu, afirmam ser o objetivo das últimas movimentações partidárias na formação de alianças para as eleições municipais.
Mas, ao longo da nota, Amaral vai revelando alguns pontos da discordância com o PT, partido a que o PSB está ligado desde a campanha presidencial de 1989, quando Lula foi derrotado por Collor para a Presidência da República.
Na verdade, o que está claro para os que acompanham a política é que o PSB tenta se fortalecer nesta campanha municipal para fazer frente não apenas ao PT, mas, sobretudo, ao PMDB, que hoje ocupa o papel hegemônico na aliança governista.
O objetivo do PSB é, segundo diversos relatos, num primeiro momento, ocupar a vaga de vice na chapa de reeleição de Dilma Rousseff, posto que já teria sido garantido a Eduardo Campos pelo ex-presidente Lula.
Na sequência, Eduardo Campos pretenderia ser o candidato presidencial da aliança governista em 2018, tirando do PT a prioridade para indicar o candidato.
Caso se mostre inviável essa alteração, o PSB pensaria em voo solo já em 2014, já que a adesão ao projeto político do PSDB, que já esteve em cogitação, estaria ficando mais difícil, mesmo sendo Campos muito próximo do senador Aécio Neves, que deve ser o candidato tucano à Presidência da República.
A dificuldade estaria não apenas no relacionamento político e pessoal com o ex-presidente Lula como no crescimento do nome do governador de Pernambuco como liderança política nos últimos tempos e no fortalecimento do PSB como partido, ainda mais se unir com o PSD do prefeito paulistano, Gilberto Kassab, firmando sua posição no Sudeste.
O vice Roberto Amaral lembra que o PSB sempre defendeu a política de frente “(...) mesmo quando nosso principal aliado, o PT, praticava a unilateralidade das candidaturas próprias como tese e projeto isolado de crescimento, ao arrepio, na maioria das vezes, da realidade objetiva que clamava pela união das forças de esquerda”.
Ele ressalta que o PSB tem sido sempre fiel “principalmente ao presidente Lula” e assim permanecerá “enquanto seus projetos puderem ser partilhados na igualdade do respeito mútuo e no respeito às eventuais divergências de tática”.
E adverte: “Aliança entre iguais compreende, como argamassa, independência que não rima com alinhamentos automáticos. Somos partidos que se respeitam.”
Roberto Amaral diz em sua nota que, mesmo sendo “aliado leal”, o PSB cultiva “seu próprio projeto, seus próprios objetivos e sua forma peculiar e socialista de buscar o poder na companhia das forças de esquerda fortalecidas pelo apoio das crescentes camadas progressistas e democráticas de nossa população”.
O “simples fato” de o PSB ter candidaturas próprias em Recife e Fortaleza, e o PT ter decidido lançar candidato próprio em Belo Horizonte, não significa que os planos nacionais estejam prejudicados, esclarece Amaral.
Mas continua sua crítica à impossibilidade de uma aliança, dizendo que os dois partidos em Belo Horizonte estão “esquecidos do sucesso em que se constituiu política e eleitoralmente a aliança que levou Marcio Lacerda (do PSB) à prefeitura em 2008”.
Amaral atribui a uma análise “frívola” a dedução de que os desencontros municipais indicam mudanças mais profundas na relação nacional entre os dois partidos, atribuindo às alianças municipais “a lógica da vida local, ou seja, muitas vezes em distonia com o quadro nacional”.
Para ele, a explicação é vária. Mas todas elas são apontadas em tom crítico, e, como o documento não é uma autocrítica, pode-se deduzir que as críticas são dirigidas ao PT:
“Pode ser a pobreza de nossas estruturas partidárias, pode ser a mediocridade do debate ideológico, pode ser a despolitização da política, pode ser, até, o pragmatismo que, como cupim insaciável, devora as entranhas de nossos partidos. Pode mesmo ser a espetacularização da política, a preeminência da campanha televisiva e, por força dela, a busca de alianças partidárias sem viés ideológico, mas simplesmente para compor tempo viável no programa eleitoral.”
A exceção, ressalva a nota, é a eleição na cidade de São Paulo, explicando assim a intervenção da direção nacional para que a regional do PSB, que queria apoiar Serra, ficasse com o candidato petista, Fernando Haddad.
“Nossa vitória, ali, é estratégica porque ali se trava a verdadeira luta contra o atraso e as elites perversas. Ali, fossem quais fossem os prejuízos, não poderíamos concorrer para que o interesse paroquial sobrelevasse os compromissos com a política.”
Um bom exemplo da visão crítica que o PSB tem da atuação do PT está na explicação de Roberto Amaral sobre o que aconteceu na formação da aliança em Recife, por tudo fundamental para o governador Eduardo Campos:
“No Recife, a candidatura própria nos foi imposta pela lamentável crise do PT, que, ao fim e ao cabo, chega ao pleito ainda dramaticamente dividido e, por essa razão, podendo ameaçar a esquerda pernambucana com a derrota eleitoral, ou seja, dito pela mão inversa, nos acenando com o retorno ao poder daquelas mesmas forças que, juntos, PSB e PT lograram derrotar, para fortalecer a sustentação do governo da presidente Dilma, governo que nos honra e nos enche de contentamento e orgulho.”
O documento do PSB termina com uma afirmação que é também uma advertência ao PT: “Nosso compromisso com a continuidade do projeto de centro-esquerda, ora liderado pela presidente Dilma, não entra em contradição com nosso desejo, legítimo e necessário, de crescimento”.
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