O Estado de S. Paulo - 02/07/2012 |
Com que então o Banco Central já acha que o crescimento do PIB em 2012 vai ficar em 2,5% apenas? A previsão anterior era de 3,5%. Seria o caso de dizer, puxa vida, que baita tombo entre as duas previsões? Pelo menos, isso explica por que a presidente Dilma está aplicando afobadamente tantas doses de anabolizantes no combalido organismo econômico do País para tentar reanimá-lo: baixa dos juros, desonerações fiscais, aumento do crédito, aumento das compras governamentais, estímulos a setores industriais, estímulos ao comércio, pacote para a agricultura - enfim, uma espécie de farra do boi com os dinheiros públicos. É que, sem dúvida, bem antes da divulgação das novas previsões do Banco Central o governo já tinha informações que o preocupavam, e já percebia a inclinação da ladeira à frente. Portanto, os anabolizantes já vinham sendo estudados e, muito provavelmente - caso queiramos acreditar que esse governo tem preparo para adotar medidas estratégicas - os remédios estão se dirigindo para os setores nos quais se identificou maior agilidade e maior capilaridade econômica para disseminar os seus efeitos. Aguardemos, pois, com boa vontade. O ministro Mantega - uma das figuras mais anódinas das que já ocuparam a Fazenda deste país - dá muita risada e espalha aos quatro ventos que, com as medidas que o governo está tomando, no segundo semestre (isto é, a partir de hoje), a economia vai ganhar força e a maré vai nos levar a bom porto. Talvez o crescimento do PIB ultrapasse até os 3%. Esse tipo de remédio para as gripes ou resfriados da economia já foi aplicado inúmeras vezes pelos governos brasileiros. O ex-presidente Lula o aplicou, em 2008, para afastar de nós a "marolinha". E deu certo. Sempre dá certo... a curto prazo! Por isso, não são poucos os críticos que dizem que a economia brasileira tem "voo de galinha" - sobe para cair logo adiante. Com as medidas antimarolinhas do Lula a nossa economia ganhou impulso e chegou a crescer 7,5% em 2010 - ritmo quase chinês. Em 2011 cresceu 2,7% e agora a previsão é de 2,5%. A face simpática disso é que se trata de pequenos crescimentos em cima de um grande crescimento. E antes o Brasil tivera dois anos de bom crescimento: 5,4%, em 2007, e 5,1%, em 2008. Apesar da queda de 0,2%, em 2009 - efeito da marolinha - digamos que o balanço geral dos últimos cinco anos ainda é bom. O País está crescendo. O problema é que está crescendo feito carro velho, bem velho: dá um arranque e morre; dá outro arranque, morre de novo. Lembra os tempos da manivela. Ainda vejo meu avô saltando apressado do fordeco, manivela na mão, para "dar corda no motor", como ele dizia, só para morrer de novo na ladeira seguinte. Não temos - e essa é a questão - uma economia com crescimento sustentável ainda. E por isso não temos também uma economia confiável. A confiabilidade da economia, a médio e longo prazos, é importante para os investidores, nacionais ou estrangeiros, porque é ela que garante um fluxo regular de capitais para empreendimentos que exigem prazos dilatados de maturação. Os investimentos estrangeiros que têm vindo para o Brasil - e fala-se muito que esse fluxo tem sido importante para garantir o nosso superávit em contas correntes - na maior parte dirigem-se para negócios de oportunidade, como comércio ou bancos, ou para especulações, imobiliárias ou com ações. Muito pouca coisa ou quase nada sobra para indústrias de ponta ou para a infraestrutura. Na China, ao contrário, tsunamis de investimentos internacionais têm se dirigido para a infraestrutura, transportes (portos, ferrovias e energia) e indústrias de ponta (a China se prepara para lançar uma estação orbital). Por quê? Porque há confiabilidade no retorno a médio e longo prazos desses investimentos. No Brasil não há um elenco bem estruturado de projetos de desenvolvimento básico dos quais o investidor, brasileiro ou estrangeiro, possa participar com confiança. O único, o da exploração do petróleo do pré-sal, só tem lugar para a Petrobrás, mesmo que ela não dê conta, o velho nacionalismo não deixa ninguém mais participar. O resto é só falatório, como o trem-bala São Paulo-Rio, sobre o qual já se fala há mais de quatro anos, prazo em que a China construiu um de 1.316 km, entre Pequim e Xangai. Mas, além da falta de planos objetivos e definições de projetos de base (portos, pontes, rodovias, ferrovias, aeroportos, estaleiros, canais fluviais, etc.) que fariam a economia mais que crescer, avançar tecnologicamente, ainda há os obstáculos para a indústria normal, o comércio do dia a dia, o ensino e os serviços em geral. E que até o governo reconhece: juros, impostos, preços da energia, encargos de todo tamanho, burocracia. Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, dizia no Estado (29/06) que os encargos que recaem sobre a energia somam R$ 11,6 bilhões por ano. Mais do que os R$ 8,5 bilhões que o governo se propõe a gastar agora em compras de veículos e máquinas com o objetivo de dinamizar a atividade industrial. Resumo da ópera: os anabolizantes do laboratório Dilma/Mantega são bem-vindos, mas sem uma verdadeira e abrangente política de desenvolvimento de longo prazo, continuaremos como o fordeco do meu avô. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, julho 02, 2012
A economia anda como o fordeco do meu avô Marco Antônio Rocha
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