O Estado de S. Paulo - 18/08/2010
No segundo trimestre deste ano, a China passou o Japão em tamanho do PIB e, assim, se tornou a segunda economia do mundo.
A diferença foi pequena. O PIB do Japão nesse período foi de US$ 1,28 trilhão e o da China, de US$ 1,33 trilhão. Como a estagnação da economia japonesa está longe de se reverter, a vice-liderança chinesa parece consolidada.
Em apenas 30 anos, a economia da China ultrapassou a da Alemanha, a da França e a do Reino Unido. Em mais 20 anos, calculam os analistas, terá deixado para trás também a dos Estados Unidos, que em 2009 produziu renda nacional de US$ 14 trilhões.
Para que isso se concretize, novo arranjo global terá de acontecer. A China chegou onde chegou graças à atual simbiose mantida com os Estados Unidos. Nesse arranjo, os Estados Unidos se transformaram em ávidos consumidores de produtos industrializados chineses e, em compensação, a China passou a financiar o déficit orçamentário americano por meio da compra, com suas reservas em dólares, de títulos do Tesouro.
Esse jogo não é sustentável. Nem os Estados Unidos estão em condições de alargar seu déficit fiscal (e também sua dívida) nem a China poderá seguir amontoando reservas indefinidamente (hoje estão em US$ 2,4 trilhões).
A disparada da economia chinesa, conduzida pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, não é apenas um evento quantitativo. Ao contrário do que acontece com o Japão, que é gigante econômico mas nanico político, a China, que já é potência nuclear, tende a crescer também em poderio geopolítico.
Do ponto de vista do Brasil, a rápida ascensão da China abre enormes perspectivas econômicas e, ao mesmo tempo, impõe sérios desafios. No início do século passado, quando o emergente era os Estados Unidos, as economias latino-americanas foram marginalizadas do processo. Os Estados Unidos dispunham de quase tudo: capacidade produtiva, capitais, matérias-primas, alimentos e energia. Por isso, nesse processo, puderam dispensar o concurso das economias latino-americanas. O Brasil só foi convocado para fornecer uma sobremesa, o café, e, assim, seu desenvolvimento ficou para trás.
O rápido crescimento econômico da China não se fará sem crescentes suprimentos de matérias-primas, alimentos e energia a serem fornecidos pelos países em desenvolvimento. Serão receitas que ajudarão a financiar o avanço econômico brasileiro.
No entanto, nesse processo em que o Brasil estará alimentando as máquinas e as bocas chinesas, a forte entrada de moeda estrangeira com base no aumento das exportações tenderá a produzir valorização do real e, consequentemente, a tirar competitividade do produto industrializado interno. Para neutralizar esse efeito, será preciso derrubar decisivamente o atual custo Brasil. Isso implica reduzir os juros e a carga tributária, modernizar e ampliar a infraestrutura, levar adiante as reformas estruturais e reduzir o excesso de burocracia.
Há no Brasil consciência da importância deste momento. Mas sobram dúvidas sobre se os dirigentes, que serão conduzidos para a tomada de decisões e para a organização das forças nacionais, serão capazes de sobrepor o interesse do País às picuinhas do seu jogo político.
Entrevista:O Estado inteligente
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