O Globo - 16/07/2010
A crise europeia não é tão grave quanto parece. A frase, que contraria o tom das notícias, é do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. Ele acha que a Europa já encaminhou a solução através de um controle do gasto público. “A crise pode ter efeito modernizador porque está empurrando países para reformas, como a trabalhista, na Espanha, e a previdenciária, na Grécia.”
Durão Barroso está no Brasil para participar da Conferência de Cúpula BrasilEuropa, e eu o entrevistei no programa Espaço Aberto, da Globonews. Durante a entrevista, nos intervalos da gravação, conversamos sobre a crise europeia. Ele não nega que o problema seja grave e começa já avisando que entendeu o recado principal do desequilíbrio: — Nós estávamos vivendo acima das nossas possibilidades desde a entrada dos países no euro. Inclusive nós, lá em Portugal.
Ele acha apenas que as avaliações sobre a crise da Europa estão sendo exageradas pelos analistas de mercado e economistas que não estariam levando em conta fatos como: a dívida do Japão é duas vezes a dívida da Europa, em percentual do PIB; a dos EUA também é muito maior; o déficit médio da Europa também é menor do que o dos Estados Unidos. Admite que alguns países estão com crises mais preocupantes, como a Grécia, por exemplo, mas diz que todos estão tomando providências para corrigir os desequilíbrios que levaram à crise de confiança.
Durão Barroso diz que, também, ao contrário do que se imagina, não houve uma opção europeia por austeridade imediata: — O orçamento da Alemanha ainda é expansionista este ano. O país está apontando que caminhará no sentido da virtude fiscal ao longo dos próximos anos.
Ele discorda das críticas dos economistas de que a Europa, ao cortar gastos agora, pode estar aprofundando sua crise de baixo crescimento.
Barroso vê a situação pelo ângulo inverso: acha que se não houver corte de gastos, se não houver indicação de que se caminha para a virtude fiscal, a crise se aprofundaria e não se conseguiria retomar o crescimento: — A crise mostrou que temos que melhorar nossa competitividade e isso vem sendo perseguido através de várias reformas que começaram a ser feitas.
Argumentei que se não houvesse uma união monetária os países mais frágeis poderiam desvalorizar suas moedas e assim melhorar a competitividade: — Essa não é a melhor forma de aumentar a competitividade porque você acaba deprimindo seu PIB. A Europa tem países com diferentes níveis de competitividade mas que estavam todos vivendo a vantagem de serem considerados iguais aos grandes.
Quando se diz que a Europa vai crescer menos, é bom lembrar que nosso nível de PIB per capita é várias vezes o dos países em desenvolvimento, e que portanto o crescimento será num ritmo menor mesmo. O que a crise mostrou é que o mercado não sabe muito bem como funciona a zona do euro.
A região já mostrou que vai fazer tudo para defender a zona do euro, deu um grande empréstimo para a Grécia, que é o caso mais grave, e ela está fazendo suas reformas.
Argumentei que há reações da opinião pública interna dos países mais fortes contra a ajuda aos outros países, até porque existem diferenças de direitos trabalhistas e previdenciários, como a idade de aposentadoria: — Já estão ocorrendo reformas.
A Alemanha tinha idade de aposentadoria indo para 67 anos e a Grécia estava ainda com 55 anos. Hoje a Grécia já votou a reforma da sua aposentadoria. Na Alemanha, houve críticas à ajuda, mas a proposta foi aprovada pelo Parlamento e pesquisas recentes feitas na Europa mostram o apoio às medidas de apoio ao euro.
Durão Barroso admite que como consequência do desemprego alto, em alguns países, pode haver mais reação à imigração. Conta que por isso mesmo está sendo discutida na Europa uma lei geral de imigração que permita a entrada legal de pessoas que querem morar na região, mas combata a ilegalidade: — O que acontece é que como a Europa tem uma rede de proteção social muito alta há um natural interesse de imigração. A Europa precisa controlar isso, mas ao mesmo tempo é uma região que vai precisar importar mão de obra de outros países, por isso precisa de regras.
A última vez que conversei com Durão Barroso foi em Copenhague, na véspera do fim da COP-15, que tentava fechar com todos os países um acordo do clima. Ele estava temendo o fracasso, que acabou se confirmando. Hoje, faz um balanço mais otimista da reunião.
— Foi um desapontamento o que houve em Copenhague, mas talvez tenhamos tido ambições demais.
Não pode continuar uma situação em que só haja limites de emissão de gases de efeito estufa para a Europa e mais alguns países, deixando de fora os dois maiores poluidores do mundo, Estados Unidos e China. Continuamos perseguindo um acordo global. Já houve avanços desde Copenhague e há chance de acordos setoriais na área de combate ao desmatamento ou o financiamento de curto prazo para a mitigação dos efeitos da mudança climática nos países mais pobres.
Ele acredita que novos avanços acontecerão em Cancún, na COP-16, e acha que os que são favoráveis ao acordo têm dois aliados: — A ciência e a opinião pública querem que o mundo reduza os gases de efeito estufa.
Entrevista:O Estado inteligente
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