O Estado de S. Paulo - 29/07/2010
Mais do que torcida, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai fazendo o que pode para empurrar o Banco Central a colocar em marcha operações cujo objetivo é aumentar a cotação do dólar no câmbio interno (desvalorização do real).
Trata-se da volta de leilões de contratos de swap reverso de câmbio. Essa expressão é bem mais fácil de entender do que parece para os leigos em finanças. Nesse caso, o Banco Central venderia contratos de dólares para entrega futura. Quem ficar com os títulos não tem de correr o risco cambial, que é o risco de queda ainda maior do preço da moeda estrangeira. Teria como rendimento os juros de mercado.
Antes de tudo, é preciso dizer qual é o problema da hora e, então, apontar o jogo de cada parte e as consequências.
Desde 2004, o Banco Central compra e vende moeda estrangeira no mercado interno (mais compra do que vende) com o duplo objetivo de formar reservas e de impedir bruscas flutuações das cotações. Em geral, o Banco Central não deixa nem sobrar nem faltar dólares. Neste ano, no entanto, acontece uma anomalia. De janeiro até agora, comprou nada menos que US$ 14 bilhões acima do fluxo líquido de moeda estrangeira. Apesar dessa operação firme de compra, as cotações do dólar não param de cair. Na outra ponta dessa corda estão os bancos com posições vendidas líquidas de US$ 13 bilhões no mercado à vista e de quase US$ 9 bilhões no mercado futuro.
Ou seja, os bancos estão apostando pesado na queda das cotações do dólar, provavelmente porque esperam que, em setembro, entrem cerca de US$ 20 bilhões correspondentes à subscrição já programada de ações novas da Petrobrás.
Essa posição vendida dos bancos preocupa o Banco Central porque distorce o jogo do câmbio e o comércio exterior. Os bancos praticamente não detêm mais estoques de moeda estrangeira para financiar exportações. O ministro Guido Mantega, por sua vez, está preocupado com o crescimento do rombo das contas externas. Ele gostaria muito de que o real se desvalorizasse, não apenas para estimular exportações e inibir importações, mas também para convencer os exportadores a trazer de volta ao Brasil alguma coisa entre US$ 15 bilhões e US$ 30 bilhões que eles mantêm depositados no exterior.
A retomada dos leilões de swaps reversos de câmbio viria com o objetivo de desmontar a posição excessivamente vendida dos bancos. Por enquanto, o Banco Central não passou das ameaças da retomada dessas operações destinadas a virar o jogo. Aparentemente, reluta em mergulhar de cabeça nessas águas porque poderia provocar em alguns bancos excessivamente expostos a posições vendidas no câmbio o mesmo efeito que em 2008 apanhou os grupos Sadia e Votorantim, que estavam pesadamente na aposta errada quando a crise puxou para cima as cotações do dólar.
Há uma conclusão (e lição) a tirar dessa situação. De repente, a economia brasileira ficou tão grande que operações de US$ 20 bilhões ou mais (como a que fará parte da esperada capitalização da Petrobrás) se tornaram comuns. A expectativa da entrada desses recursos já é suficientemente forte para provocar distorções no mercado interno de câmbio. Apenas um expressivo aumento da corrente de comércio exterior (exportações mais importações), que possa tornar relativamente menor o peso das operações financeiras com moeda estrangeira, parece capaz de reduzir esse impacto.
Brasileira até janeiro
O presidente Lula garantiu ontem que a Oi continuaria sendo brasileira. "Enquanto eu for presidente, a Oi continuará sendo uma empresa nacional", disse. Para quem está desinformado ou distraído: Lula deixará de ser presidente em cinco meses.
Portuguesa com certeza
A portuguesa da gema Portugal Telecom não comprou apenas 22,4% da Oi. Comprou também 35% das controladoras da Oi, a LF Tel (grupo Jereissati) e AG Telecom Participações (grupo Andrade Gutierrez).
Poder de veto
Mais ainda, arrancou direitos especiais nas decisões dessas duas acionistas da Oi. Entre os direitos estão o poder de veto e o poder de deliberação sobre questões importantes.
Veta quem pode
Ora, quem tem poder de veto e poder de deliberação sobre questões importantes nas empresas que controlam a Oi, controla a Oi. Ou essa lógica não vale para as empresas de Portugal?
Entrevista:O Estado inteligente
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