O ESTADO DE S. PAULO
Reza a regra mor dos especialistas em propaganda eleitoral que quem está na frente nas pesquisas ou não deve ir a debates com os adversários ou pelos menos deve reduzir sua presença ao mínimo indispensável.
Sob essa ótica até faz sentido a decisão de um candidato à reeleição como o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (43%, segundo Ibope do início de junho), que já mandou avisar que no primeiro turno não vai a nenhum.
Inclusive porque com a saída de Anthony Garotinho (21%) da disputa, a expectativa de Cabral é ganhar de primeira sem abrir espaço para Fernando Gabeira (12%) crescer na contenda.
A despeito do desrespeito que esse tipo de atitude denota com o espírito da coisa (democrática) e principalmente em relação ao eleitor, tratado como mera massa votante enquanto ao marqueteiro com seus trackings, suas "qualis e quantis" se confere total reverência, a prática da ausência do favorito está consagrada.
O que não é comum é alguém em situação não consolidada, em cenário de equilíbrio com o adversário, abrir mão espontaneamente de espaços de embate para marcar suas posições, tentar conquistar mais eleitores e, quem sabe, mostrar que os oponentes não lhe fazem sombra em matéria de atributos para ocupar o cargo pretendido.
A menos que esse alguém de um lado não se sinta suficientemente seguro para enfrentar tantas e repetidas refregas e de outro tenha segurança de que o desempenho de outrem lhe dará as garantias necessárias.
É o caso da candidata Dilma Rousseff, cujos estrategistas decidiram que só vai a quatro debates de televisão. Como não podem dizer a verdade, tergiversam fazendo candidata alegar "problemas de agenda" para não comparecer.
Difícil imaginar quais problemas de agenda seriam tão ou mais importantes que o comparecimento ao maior número possível de mesas de discussões razoavelmente espontâneas entre os candidatos. Que não possa ir a um ou outro é normal.
Mas que se restrinja ao que seria impossível recusar, apenas para não caracterizar a ausência como padrão, dá razão à oposição quando diz que o governo tem receio de que sua candidata não esteja à altura das exigências da exposição.
Leva o eleitor também a suspeitar que assim seja. E, para usar uma expressão que Marina Silva e Fernando Gabeira estão usando para reclamar dessas ausências, "empobrece" a cena, que fica limitada aos números de pesquisas, ao cotidiano de frases de efeito, gestos de impacto ou desaforos trocados entre candidatos, vices, presidente da República e respectivas assessorias.
Muito mais interessante que essa rotina de futricas de vizinhança mal-afamada - à qual se junta a partir de 17 de agosto o espetáculo amestrado conduzido por marqueteiros no horário eleitoral - seria um embate, digamos, semanal temático com regras mínimas para assegurar a civilidade, com os pretendentes a presidente discutindo livremente.
Um tema de cada vez, até esgotar o assunto. Hoje sobre segurança pública, semana que vem sobre visão de democracia, na seguinte tudo sobre saúde ou educação, na outra política externa poderia ser o tema e assim até o dia da eleição.
Cada um por si, sem urdiduras, falsidades ideológicas, apropriação de personalidades, cada qual por conta de seu conhecimento e de sua capacidade de argumentar e convencer o público. Com a realização de vários debates a avaliação seria mais justa para eleitor e candidato: quem não comparecer a algum ou não for bem poderia se recuperar adiante e alcançar boa média. Ou não.
Cansaria o eleitor tanta profundidade?
Pode até ser, mas quem disse que hoje o artificialismo, a ligeireza, a transgressão e o bate-boca nem sempre digno de sala de visitas entretêm o eleitorado?
Falso brilhante. O PMDB inventou para si o papel de "poder moderador" entre o PT e vários setores da sociedade, empresários inclusive. Que o partido queira se livrar da pecha de fisiológico de alguma maneira, entende-se. Mas que as pessoas acreditem e embarquem é realmente de boquiabrir.
Entrevista:O Estado inteligente
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