O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/04/2010
Os números ontem divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento mostram que a balança comercial, conta em que são registradas exportações e importações, aponta para uma rápida deterioração.
Há apenas três meses, o superávit mensal registrava vários bilhões de dólares (chegou a ser de US$ 4,6 bilhões em junho de 2009). O de março não passou de US$ 668 milhões. Em relação ao do primeiro trimestre de 2009, o saldo do primeiro trimestre deste ano mostra queda de 70,0%.
E não dá para dizer que as exportações estão fraquejando. Ao contrário, as exportações crescem uma enormidade, nada menos que 25,8% - feitos os cálculos com base na acumulada do primeiro trimestre comparada com o mesmo período do ano passado. No entanto, as importações mostram um vigor ainda maior, crescem 36,0%.
O principal fator responsável pela esticada das importações é o aumento do consumo interno, que vai se expandindo em torno dos 7% ao ano, enquanto o setor produtivo cresce a um ritmo de 5% ou 6% ao ano. Ou seja, a oferta interna não está dando conta do tamanho do consumo; os investimentos para aumentar a produção acontecem, mas em velocidade mais baixa. Assim, para garantir o abastecimento nacional, a economia recorre às importações e o fornecedor do Brasil agradece, porque enfrenta redução de encomendas por causa da crise. O forte consumo interno impede, também, que as exportações cresçam mais. Assim, o País não exporta mais café, soja e veículos porque as vendas internas deixam menos excedentes.
Já é fato sabido, mas não custa repetir, que o consumo no Brasil está sendo turbinado por três fatores: pelo forte aumento do crédito; por alguma renúncia tributária do governo federal (isenção do IPI para veículos e aparelhos domésticos); e pela disparada das despesas correntes do governo federal, a um ritmo de 17% ao ano.
A partir deste mês, o Banco Central deve aumentar os juros para conter o consumo. Mas ninguém deve esperar que neste ano a política monetária sozinha tenha força para reduzir os impulsos de compra do brasileiro. Algum efeito, se acontecer, será sentido apenas na virada do ano.
Alguns analistas insistem em que a valorização do real é o principal fator por trás da puxada das importações. Não dá para negar essa influência, mas também não dá para exagerá-la. As exportações não estariam aumentando quase 26% neste ano se a magnitude da valorização do real fosse tão importante quanto se diz por aí.
Uma das indicações de que o câmbio não vem sendo obstáculo relevante para exportar é o que acontece no setor de produtos industrializados, em princípio os mais sensíveis às variações de câmbio. Embora o mercado externo esteja tolhido pela crise, no primeiro trimestre, a exportação desse segmento cresceu 20,6% e, como já ficou dito, provavelmente mais cresceria não fosse o forte apetite interno.
Os resultados medíocres do primeiro trimestre não devem ser extrapolados para o resto do ano. Pelo menos três puxadores de exportação começam a atuar com mais força: a alta das commodities, especialmente do minério de ferro (alta de 90%); as safras agrícolas recordes deste ano que agora vão se escoando em maior volume em direção aos portos; e a razoável recuperação do comércio mundial depois da paralisia imposta pela crise.
- Diga ao povo que fico
Henrique Meirelles avisa que por hora desiste da carreira política e que vai permanecer à frente do Banco Central. Como observado na Coluna de ontem, vai enfrentar mais pressão do que habitualmente na administração da política monetária. A inflação está saindo dos trilhos justamente num ano de eleições. E, na medida em que puxar pelos juros, o presidente do Banco Central vai ser hostilizado como aquele que está desmanchando o bom ambiente do setor produtivo. Em caso de vitória da candidata Dilma Rousseff, Meirelles se cacifa para ser figura importante no Ministério
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