O Estado de S. Paulo - 06/04/2010 |
Houve um tempo em que o MST sabia o que perseguia. Queria a reforma agrária com a mesma radicalidade com que o viajante francês August Saint Hilaire viu esta terra em 1822: "Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil." De lá para cá não aconteceu nem uma coisa nem outra. Também a reforma agrária vai perdendo o sentido depois que surgiram por aqui o agronegócio e o Bolsa Família. Quase não há mais latifúndio improdutivo e, onde ele ainda existe, os líderes do MST não se interessam por assentamentos, porque fica longe de tudo. O MST está sem foco. Partiu para depredações do que chama de monoculturas. Ataca laranjais, plantações de eucalipto e até os seculares canaviais, a cultura trazida nas caravelas de Martim Afonso de Souza em 1530, como se fossem nocivos e como se houvesse outro jeito de produzir suco de laranja, celulose, açúcar e álcool. O MST valoriza a cultura de subsistência como ideal de vida moderna. Em princípio, é hostil a novas tecnologias e aferra-se a uma agricultura familiar jecatatuísta, como se os verdadeiros valores da humanidade só se desenvolvessem em condições de atraso. Quer parecer independente do governo Lula, a ponto de desprezar os interesses eleitorais do PT, mas depende dele para tudo, para distribuição de terras, para obtenção de sementes, para escoamento da produção e, até mesmo, para sobrevivência do assentamento. Relaciona-se com a autoridade como se fosse a única supridora dos excluídos, a força que faz chover e nascer o sol e que tem de lhe fazer a vontade aqui e agora. Para as lideranças do MST não há nunca o que negociar. Tudo tem de ser como está na cabeça deles, inclusive a imposição do regime socialista no Brasil, seja lá o que isso signifique. "Não existe para o MST a ideia de passar pelos canais institucionalizados, partidos, etc.; existe é pressão", aponta Fernando Henrique. Apesar de tudo o que apronta, o MST vem sendo tolerado. E uma das razões pelas quais isso acontece parece ter a ver com a percepção de que cumpre a função de dar alguma organização ao lúmpen que se formou nas periferias das grandes cidades interioranas. Entrega-lhe uma bandeira e ensina-lhe alguns hinos, preserva-o da delinquência pura e simples e aponta-lhe um futuro cujo símbolo é o pedaço de chão que um dia vai receber. As lideranças do MST ainda não perceberam que o assentado não quer terra; quer emprego. A maioria dos que compõem os acampamentos não sabe o que fazer com a terra que recebe. E os que sabem logo se dão conta de que, mesmo com a ajuda oficial, a terra não lhes oferece futuro se não estiver inserida no sistema global de produção, distribuição e consumo. Mas essas são imposições do capital internacional e do neoliberalismo... Confira Para o alto |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, abril 06, 2010
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