Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 04, 2009

Perfurar as bolhas Celso Ming

O ESTADO DE S PAULO,
Em menos de uma semana, dois dos mais notáveis analistas da economia mundial, Martin Wolf e Nouriel Roubini, escreveram, cada um com seu jeito e com seu foco, sobre as bolhas que vieram ou que virão e sobre a necessidade de agir preventivamente. Nenhum dos dois disse o que deve ser feito.

Wolf adverte que os bancos centrais não podem mais se limitar a enfiar a inflação para dentro da meta. Têm de agir para perfurar as bolhas que possam se formar. Têm de monitorar os preços das ações, dos imóveis e sabe-se lá de que ativos mais, restringir o crédito bancário quando o perigo aumentar e cuidar da capitalização dos bancos. Mas como?

Roubini parece mais preocupado com as bolhas em formação no mercado de commodities (petróleo, alimentos e matérias-primas metálicas) e com os juros baixos demais, que abrem as portas para as operações de carry-trade: o sujeito levanta empréstimos a juros negativos e reaplica os recursos nos mercados cujos preços não param de subir e produzem bolhas. (Isso ocorre porque os Tesouros e os bancos centrais despejaram montanhas de dinheiro para apagar o incêndio e essa abundância cria novas bolhas, cujo estouro será inevitável.) Mas como perfurá-las?

Em algum momento os bancos centrais terão de trazer de volta essa dinheirama. Falta saber quando isso se iniciará e o que farão para que a redução de liquidez não mate a retomada da atividade econômica. Até agora, os sinais emitidos pelos grandes bancos centrais são de que essa operação não começará tão cedo, pois a recuperação ainda é frágil. Tanto é frágil que basta um indicador aquém das previsões para que o mercado volte a ter surtos de pânico. Enfim, a tal estratégia de saída é de execução tão delicada quanto a intervenção executada de setembro de 2008 para cá.

O problema é que podemos chegar a uma situação em que tanto será necessário puxar pelos juros para esvaziar as bolhas quanto mantê-los baixos para não prejudicar a recuperação do setor produtivo. Nesse momento, os bancos centrais terão de fazer a escolha e, qualquer que seja ela, poderá cobrar um preço alto.

Há outras limitações. Quando cobra mais ação dos bancos centrais, Martin Wolf não menciona que o quadro institucional é adverso, situação já apontada aqui desde o início da crise. Os bancos centrais têm mandato local, enquanto os bancos atuam globalmente. Cada vez mais é preciso coordenação da política dos bancos centrais, não só nos países ricos, mas também num círculo internacionalmente mais amplo - como ainda ontem apontava Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. E, no entanto, não há convergência entre os líderes mundiais a esse respeito.

Outra limitação está na supervisão dos bancos. A crise deixou claro que ela deve extravasar a área bancária. Tem de alcançar as seguradoras de crédito, as agências de classificação de risco e as empresas de auditoria. Como exigir que os bancos estufem seu capital se as seguradoras garantem cobertura para qualquer sinistro de crédito; se as agências estão dispostas a continuar premiando com AAA um título que pode apodrecer em semanas; e se as empresas de auditoria seguem dispostas a passar certificado de belezura para balanços de bancos que, de uma semana para outra, podem quebrar.

E, finalmente, como convencer os bancos a aumentarem a blindagem no capital e, assim, a reduzirem seus lucros, se ficou determinado que nenhum banco importante pode quebrar?


Confira
Estreitando -
O comércio exterior vai se comportando como o previsto. Mas o saldo, que é a diferença entre exportações e importações, está ficando cada vez menor. E deve se estreitar mais com o aumento do consumo, que pede mais importações.

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