Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 07, 2009

Estados Unidos A vitória dos republicanos em eleições estaduais

VEJA

O tsunami vai virar marola?

Nas duas primeiras eleições estaduais, Obama encara duas
derrotas e começa a viver o declínio que seus antecessores também
viveram, mas que sempre carrega um drama: é só declínio ou início
de uma queda livre?


André Petry, de Nova York

Jim Young/Reuters

EMPENHO INÚTIL
Obama, ao discursar no palanque de Corzine: elitismo político e delinquência financeira


No primeiro teste eleitoral que enfrentou desde sua vitória no ano passado, o presidente Barack Obama saiu tão esfolado que apelou para a mais manjada artimanha de políticos esfolados: mandou dizer que não estava acompanhando a contagem dos votos. Na terça-feira, os eleitores de Nova Jersey e da Virgínia elegeram seus novos governadores e escolheram dois republicanos. No mapa eleitoral americano, os dois estados são mais ou menos como Paraná e Espírito Santo. A derrota, portanto, não ocorreu no coração político do país, mas, examinada com lupa, é mais complicada do que pode parecer. Nos dois casos, os republicanos venceram com o voto dos independentes, assim chamados os que não são republicanos nem democratas, e dos eleitores que vivem nos subúrbios das grandes cidades. A questão é que, para ganhar a Casa Branca no ano passado, Obama teve o apoio dos independentes e dos suburbanos. Por isso, apareceu a dúvida: será que o tsunami democrata, que se levantou em 2006 e chegou ao auge com a eleição de Obama dois anos depois, está começando a virar marolinha?

Eleição estadual, no Brasil ou nos Estados Unidos, não é plebiscito sobre o governo federal, mas não deixa de refletir a musculatura do presidente. Em Nova Jersey, Obama envolveu-se diretamente na disputa e chegou a subir no palanque de Jon Corzine, o democrata que concorreu à reeleição. Corzine, 62 anos, é ex-senador e cria da Goldman Sachs. Simboliza tudo o que o eleitor anda repudiando: o elitismo de Washington e o bandoleirismo financeiro de Nova York. Corzine, portanto, perdeu para si mesmo, mas é notável que a presença de Obama não tenha produzido a vantagem necessária para vencer. Corzine ganhou 45% dos votos. Seu adversário, Chris Christie, levou 49%. Obama não é, pelo menos até agora, um presidente impopular, mas há uma mudança da percepção pública sobre seu perfil ideológico. Quando foi eleito, 45% imaginavam que seu governo seria moderado e 43% pensavam que seria à esquerda. Hoje, 54% acham que Obama faz um governo à esquerda e 34% dizem que é moderado. Num país majoritariamente de centro-direita, isso é má notícia.

A Hart Research Associates, entidade que já fez campanha de mais de 400 democratas, suspeita que pode estar começando a surgir uma maré de descontentamento contra Washington tão expressiva quanto as ocorridas na década de 70. E olha que a Hart é democrata. Mas a história eleitoral mostra que, na verdade, nada do que está acontecendo agora pode ser visto como uma surpresa. "Na política americana, é normal que haja uma inclinação contra o partido governante", afirma o cientista político Ira Katznelson, da Universidade Colúmbia. As eleições em Nova Jersey e na Virgínia, que ocorrem um ano depois do pleito presidencial, seguindo essa tradição, sempre derrotam o partido da Casa Branca. Em Nova Jersey, é assim há seis eleições. Na Virgínia, há nove.

A história eleitoral também informa que, nas eleições legislativas sob o novo governo, o partido do presidente igualmente tende a perder cadeiras no Congresso, mais na Câmara do que no Senado. Nas dezesseis eleições parlamentares desde a II Guerra Mundial, a legenda do presidente perdeu cadeiras na Câmara em catorze pleitos. No Senado, em doze. Acontece em todos os pleitos legislativos, embora com menor intensidade no primeiro deles. É quase certo, portanto, que os democratas perderão parte de suas cadeiras nas eleições legislativas de 2010, as primeiras sob Obama. Mas quantas cadeiras exatamente? Em média, dezessete na Câmara e só uma no Senado, informam as estatísticas de Alan Abramowitz, cientista político da Universidade Emory, em Atlanta. Mas a estatística não é termômetro do poder. Por isso, todo político foge da derrota, qualquer derrota, e de qualquer jeito. Nem que seja dizendo que não assiste à contagem de votos.

O bilionário é bom prefeito

Stan Honda/AFP

GANHOU, MAS FICOU FEIO
Bloomberg e seu terceiro
mandato: essa foi por pouco

O financiamento eleitoral nos Estados Unidos é uma questão resolvida para os analistas políticos preguiçosos. Se o candidato gasta rios de dinheiro e ganha a eleição, os analistas concluem que a vitória se deveu à fartura de recursos. Se perde, a conclusão também está pronta: o eleitor ficou ultrajado com o gasto excessivo e puniu o candidato com a derrota. Na terça-feira passada, o prefeito de Nova York, o bilionário Michael Bloomberg, desafiou a preguiça analítica: gastou rios de dinheiro (90 milhões de dólares), ganhou a eleição (o terceiro mandato consecutivo), e o eleitor, ultrajado com o gasto excessivo, calculou para lhe dar uma vitória, sim, mas uma vitória constrangedoramente mirrada: 51% contra 46% do desconhecido democrata William Thompson, cuja campanha custou quase um vigésimo da do vencedor. A vitoriosa derrota de Thompson também pode ser debitada na conta de outro investimento de Bloomberg: seu empenho em derrubar a lei que impedia três mandatos consecutivos. Tanto fez que derrubou. Mas boa parte dos nova-iorquinos achou que tamanho apego ao poder era arrogância. Apesar dos pesares, a maioria re-reelegeu Bloomberg e o fez pelo mais elementar dos motivos: em oito anos, dizem as pesquisas, ele foi um excelente prefeito.

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