Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 17, 2009

VEJA CARTA ao leitor

Para evitar o falso debate

Celso Junior/AE
Encher-se de logos de estatais não livrou
Alckmin em 2006 do rótulo, colado por Lula,
de ser uma ameaça às empresas do estado

Os políticos tiram proveito da constatação de que a única forma de fazer o público se interessar por uma questão nacional é reduzi-la a um Fla-Flu. Em tempo de campanha eleitoral, a tática reducionista vira uma obsessão e, muitas vezes, o pleito é mesmo decidido pela capacidade de um candidato de colar no outro um único e destruidor rótulo. Lula demoliu Geraldo Alckmin no segundo turno de 2006 demonizando de tal forma as privatizações do governo FHC que o candidato tucano ficou paralisado. Sem muita convicção, Alckmin ainda se cobriu de logos dos Correios, do Banco do Brasil e da Caixa, que prometeu nunca vender. Sem sucesso. No córner esquerdo, Lula, mostrado como o campeão da defesa das riquezas do Brasil, nocauteou Alckmin, a ameaça. Nada mais falso. Nada mais empobrecedor. Nada mais eficiente.

Uma reportagem desta edição de VEJA conta como os partidários de Lula planejavam armar o mesmo jogo em 2010. O laboratório dessa estratégia foi um assombroso ataque desfechado contra a Vale. Desde sua privatização, em 1997, a mineradora multiplicou por seis seu valor de mercado, passou a pagar 1 000% a mais de impostos, criou 52 000 empregos diretos, tornando-se uma potência global, com atuação admirável em trinta países. A Vale, portanto, deixou de ser do estado para ser do Brasil. A reportagem mostra que, a despeito de tanto sucesso, o governo passou a bombardeá-la. Primeiro foram críticas veladas, que logo deram lugar a descomposturas diretas na atual direção da companhia. Na semana passada, a estratégia ficou clara. O bilionário Eike Batista seria usado para comprar ações da empresa em mãos privadas e, ao fim e ao cabo, revendê-las aos atuais sócios estatais da Vale, devolvendo sua gestão ao estado.

Fazendo curta uma longa história, a candidata do governo entraria, então, em 2010 com o formidável trunfo de ter resgatado a joia da coroa estatal entregue por FHC à perversa iniciativa privada. Entraria. Eike pulou fora. O plano, por enquanto, falhou. A débâcle dá chance para que uma questão tão complexamente vital para o progresso e o bem-estar de todos os brasileiros, como é o papel do estado na economia, escape de se ver reduzida na campanha presidencial de 2010 a um duelo tão simplista quanto falso entre a santa guerreira do estado e o dragão da maldade da iniciativa privada. É quase utópico. Mas todos ganhariam.

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