Minto, portanto existo
O Desinformante! trata de um homem que enrolou o FBI em
um novelo de invenções. Para o diretor Steven Soderbergh,
ele apenas manifestou de forma extrema uma necessidade básica
de qualquer ser humano: a de se apresentar aos outros sob disfarce
Isabela Boscov
Everett Collection/Grupo Keystone |
NA VERDADE... Damon, como o bioquímico Mark: até sua especialidade profissional, o milho, vive de se disfarçar em outras coisas |
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É possível argumentar que um homem que usa um topete falso está dando uma pista inequívoca de que acredita poder enganar os outros sobre qualquer coisa. Mas, na encenação muito divertida do diretor Steven Soderbergh, as perucas de má qualidade são regra entre os executivos do agronegócio em Decatur, no estado de Illinois, uma daquelas cidades maçantes do Meio-Oeste americano. São todos indignos de crença, ou não? Como até os penteados vêm politizados, pode-se ter a impressão de que O Desinformante! é uma denúncia da ganância corporativa. A má conduta da ADM, porém, é um dado periférico. O que fascina Soderbergh é a indevassável vida interior de Mark, e a maneira como toda pessoa, mitômana ou não, adota alguma espécie de disfarce com que se apresentar aos outros.
Na interpretação irretocável de Matt Damon, o rechonchudo e bigodudo Mark, vestido em ternos de tecido excelente e alfaiataria medíocre, poderia ser só mais um produto do que se supõe ser a busca americana por produtividade e conformidade. Mas, na narração que acompanha o filme, seus pensamentos disparam em todas as direções - a obsessão dos japoneses por calcinhas de colegiais, borboletas que imitam outras, os truques dos ursos-polares para esconder seu focinho preto. Todos convergem para a ideia de dissimulação, e denotam também uma curiosidade intelectual, uma inquietação com a vida, que o personagem não sabe satisfazer. Até o objeto de sua vida profissional, o milho, é um paradigma do mimetismo, já que está em toda a dieta americana mesmo quando não parece estar. A certa altura de sua confusão com o FBI, Mark foi diagnosticado como bipolar. Esse dado, porém, não é essencial. Para O Desinformante!, ele representa só uma forma mais extrema de uma necessidade humana inescapável: a de não ser só o que se parece.
"O Oscar erra. E eu posso ter sido um desses erros"A seguir, trechos da entrevista que o diretor Steven Soderbergh Você diz que imediatamente pensou em Matt Damon ao ler a história de Mark Whitacre no livro-reportagem O Informante. Por quê?
Seus filmes estão cada vez mais enxutos, sem gordura nem firulas. Como exercitar essa disciplina? Che é uma visão no mínimo parcial da Revolução Cubana, uma vez que não mostra suas repercussões desastrosas, presentes até hoje no continente. Mas é preciso falar delas? Você é o único diretor a ter recebido quatro indicações ao Oscar no mesmo ano - de filme e direção por Traffic e Erin Brockovich. |
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