Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 04, 2009

Novas crises financeiras à vista Yoshiaki Nakano

FOLHA DE S. PAULO

As mesmas condições que desencadearam forte onda de especulação, bolhas e a crise financeira estão de volta

ESTE INÍCIO de recuperação da economia mundial tem singularidades e semelhanças com as recessões anteriores. Singularidades porque a recuperação não foi iniciada nem com a retomada do investimento nem com a do consumo privado e, portanto, sua sustentação dependerá de manutenção de política monetária ultraexpansionista e renovação de injeções fiscais. Além disso, o crédito bancário não voltou para o setor produtivo, a não ser por meio da emissão de títulos por algumas grandes empresas, por meio da queda nos salários com risco da terrível espiral deflacionária e por meio da ausência de recuperação no comércio mundial. Tudo isso é muito preocupante, sinalizando não só a lenta recuperação das economias desenvolvidas mas possibilidades de novas quedas na atividade econômica.

Mais preocupantes ainda são as semelhanças com a saída das recessões anteriores: baixa taxa de juros de curto prazo, forte expansão monetária, a persistência do desequilíbrio global e a acumulação de reservas oficiais para estabilizar o dólar pelos países emergentes e exportadores de petróleo e, consequentemente, nova injeção global de liquidez. Portanto as mesmas condições que desencadearam forte onda de especulação, bolhas e a crise financeira estão de volta. As semelhanças não param por aí, pois, com forte contração no nível de demanda, a inflação saiu do cenário no médio prazo e, com isso, a enorme liquidez está sendo canalizada para ativos financeiros, criando novas bolhas.

As causas estruturais mais imediatas que geram as crises financeiras são as taxas de juros de curto prazo baixas e o excesso de liquidez, ou seja, a expansão excessiva do crédito.

Essas causas geraram, no início da década de 90, booms de entrada de capitais nos países emergentes, desencadeando crises no México em 1994/5, na Ásia em 1997, na Rússia em 1998, no Brasil em 1998/9 e a bolha e quebra da Nasdaq nos EUA em 2000. Em resposta a essa crise e recessão, uma nova onda de liquidez gerou novas bolhas e quebra da Argentina e da Turquia em 2001, no Brasil novamente em 2002, bolha imobiliária nos Estados Unidos e seu colapso em 2007, bolha de preços de commodities e estouro em 2007 e colapso das Bolsas dos emergentes em 2008.

As causas imediatas estão operando e novas crises financeiras já estão à vista. Com a crise atual nos países desenvolvidos, as famílias e as empresas estão se desalavancando e, portanto, o crescimento dessas economias será muito baixo e, com o aumento do desemprego, a inflação está afastada. Com isso, o quadro atual é ainda mais propício do que o do passado para o desenvolvimento da especulação financeira e a formação de bolhas, principalmente nos países emergentes. De fato, há sinais claros de formação de bolha com a canalização do excesso de liquidez para algumas commodities, como petróleo e metais, Bolsas dos emergentes e algumas moedas-commodities. Sem dúvida, nesta nova onda de especulação financeira, o real entrou nos portfólios como moeda-commodity. Portanto a apreciação do real deverá persistir até que algum incidente qualquer detone nova onda de depreciação.

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