O GLOBO
PANORAMA ECONÔMICO
Em Londres há um crescente pessimismo em relação a Copenhague. E quando falo Londres, estou falando de governo, empresários, mercado, ONGs, professores, cientistas. Tenho conversado com todos os setores envolvidos em mudanças climáticas.
Eles discordam sobre várias coisas, mas todos respondem com um longo silêncio quando pergunto sobre a chance de um acordo global do clima.
Faltam seis semanas para o começo da reunião, que foi considerada por um empresário que ouvi a mais importante da nossa era. As indicações de fracasso em Bangcoc, esta semana, foram captadas como um sinal vermelho.
— Nosso pessoal em Bangcoc nos conta que tudo que há sobre a mesa é um documento de 200 páginas, cheio de redundância e cheio de espaço em branco — disse Robert Bailey, diretor da Oxfam no Reino Unido.
As pessoas com quem conversei no governo tentam manter a esperança. No Ministério da Energia e Mudança Climática continua animada a sala que eles montaram para acompanhar o assunto, toda decorada com cartazes e palavras de motivação. Eles chamam de “sala de campanha”.
Vários funcionários, no telefone, falam com sociedade civil, governos, embaixadas, empresas, perguntando o que eles estão fazendo a respeito da reunião na Dinamarca. Numa reunião com empresários sobre a preparação do setor privado inglês — que assisti — o relatório apresentado por Chris Dodwell, do Ministério da Energia, tentou ressaltar os pontos mais animadores para a negociação. Mas acabou admitindo que o tempo corre contra a aprovação de uma proposta no Senado americano que permita ao presidente Obama ter alguma coisa para pôr na mesa em Copenhague.
David Hill, um dos negociadores do ministério, me disse que, apesar de tudo, o Reino Unido está mais esperançoso em relação à reunião do que outros países.
Formou-se grande expectativa sobre a Cop 15, Conferência das Partes, número 15, em Copenhague. Primeiro, porque as evidências científicas nunca foram tão sólidas de que os riscos para a Humanidade são cada vez maiores. Segundo, porque os cenários estão piorando. Ontem escrevi aqui sobre a minha ida ao MetOffice, onde os cientistas britânicos falaram do risco de que o pior cenário feito pelo Painel de Mudanças Climáticas da ONU seja superado.
É o estudo “Quatro graus e além”, que eles lançaram recentemente, e sobre o qual me fizeram uma apresentação de duas horas.
Falei aqui com professores como Paul Ekins, autor de vários livros sobre o assunto e especialista em energia. Suas análises não deixaram dúvidas sobre o risco que corremos de não chegar a um acordo o mais rapidamente possível. Almocei com o professor Anthony Giddens que também tratou o assunto com o mesmo grau de urgência. Falarei sobre a entrevista com ambos em outras colunas.
Eric Beinhocker, sócio da McKinsey, admite que o tempo está ficando escasso para se chegar a um acordo, mas se consola afirmando que há avanços agora nas negociações para combater os efeitos das mudanças climáticas que não pareciam possíveis há dois anos: — A China admitiu cortar suas emissões por unidade de produto, o Japão aumentou sua meta, nos Estados Unidos há uma legislação aprovada na Câmara e tramitando no Congresso. Ninguém mais discute “se”, mas sim “quando” adotar cada medida. O grande problema é se esses avanços chegarão a tempo em Copenhague.
O que eu ouvi no governo, nas empresas, na Bolsa de Carbono, na McKinsey, dos professores e até na conversa com as ONGs é que o Brasil está em boa situação. Aliás é um caso meio diferente de todos. Tem uma matriz energética mais renovável que todos os outros, pode se beneficiar de vários mecanismos de financiamentos que estão sendo desenvolvidos, tem uma posição de liderança nas negociações, mas poderia ter mais se superasse certas hesitações. O advogado James Cameron, que é presidente de uma empresa de investimento no setor de carbono, a Climate Change Capital — que ele definiu como pequena, apesar de ter US$ 1,7 bilhão de ativos —, acompanha a negociação desde o começo e reafirmou que o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que gerou o mercado de carbono, nasceu de ideias brasileiras às quais os EUA se opuseram.
Quando me perguntaram sobre a posição brasileira e por que o Brasil não avança mais na negociação, expliquei que há muita divisão dentro do próprio governo.
Isso é para dizer o mínimo.
John Sauven, diretor executivo do Greenpeace no Reino Unido, não precisou de explicações. Acompanha cada passo do debate interno brasileiro. Ele disse que o Brasil tem grandes oportunidades, mas também inúmeros riscos. Os cenários de mudanças climáticas mostra o Brasil muito afetado. A mesma coisa eu ouvi no MetOffice: a elevação da temperatura da terra põe em risco a Amazônia, que hoje é fundamental para todo o ciclo de chuvas no Brasil.
Quase todos com os quais eu falei estão de malas prontas para ir a Copenhague.
O aumento do medo de que a reunião fracasse não está desmobilizando o país. O Reino Unido tem metas de redução das emissões maiores do que as da Europa e um nível de preocupação com o tema sensivelmente maior do que é possível captar no debate brasileiro.
oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br
COM ALVARO GRIBEL
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