O Globo
PANORAMA ECONÔMICO
As luzes da sala de jantar da casa 10 da Downing Street estão programadas para apagar caso não haja ninguém. A casa é o escritório — e residência — do primeiro-ministro britânico. A mesa de 28 lugares estava lotada de empresários e funcionários do governo britânico discutindo a preparação para Copenhague. A reunião durou uma hora e meia e, nesse tempo, a luz apagou quatro vezes.
Eu estava lá e fui chamada para sentar à mesa e assistir à reunião. O mistério do apagar das luzes, com tanta gente presente no local, é fácil de explicar: eles são britânicos.
Fossem latinos se mexeriam mais, enquanto falam, e assim as luzes seriam devidamente avisadas de que havia gente na sala.
De notável na reunião foi o fato de que as empresas discutem com o governo detalhes de cumprimento de metas de redução de emissões. A empresa telefônica BT, pioneira na redução das emissões, disse que foi prejudicada por uma mudança regulatória sobre energia renovável.
A organização do governo inglês é curiosa. O assunto mudanças climáticas está em vários ministérios, comitês, assessorias especiais do gabinete do primeiroministro. Há o Ministério da Energia e Mudanças Climáticas e o de Meio Ambiente e Agricultura.
Eles juntaram o que no Brasil vive dividido. Diversos empresários integram um comitê da negociação para Copenhague. As empresas já estão vivendo no mundo da mudança climática. Têm que cumprir anualmente a meta de redução de carbono em suas emissões. Se não cumprirem, pagam multa, mas continuam com a dívida. Se não pagarem de novo, vão para uma lista suja. Todo mês de março têm que apresentar ao governo o relatório sobre as emissões. O tema já entrou na rotina da economia.
O assunto movimenta bilhões.
O sistema europeu produziu um importante mercado de compra de crédito de carbono. Em 2005, a Bolsa de Carbono negociou 2,1 bilhões de euros, e em 2008, apesar da queda do preço, girou 55,9 bilhões de euros.
Na reunião da sala de jantar — a mesma na qual foi servido o jantar para os presidentes do G-20 — os empresários foram informados dos últimos fatos da negociação.
Eles acompanham tudo em minúcias. Preocupação maior: os Estados Unidos não terão a lei aprovada no Senado a tempo.
Um relatório da situação econômica foi dado por um assessor do primeiro-ministro.
Na lista dos participantes, em frente ao nome do assessor, Nick Butler, estava escrito apenas Número 10. Isso significa que ele é assessor direto de Gordon Brown. O gabinete do primeiroministro tem a qualificação do número da famosa casa de tijolinho preto do século XIX.
Em resumo, ele disse que o mundo não teve o que mais temia: uma depressão global, mas, em compensação, os bancos continuam com ativos tóxicos, o consumo continua baixo, e a grande dúvida é se os bancos vão ser capazes de financiar o novo ciclo de crescimento.
— Nosso problema continua sendo como nos tornar competitivos no mercado global — disse.
As empresas e as autoridades britânicas com quem eu conversei acham que estar na frente na transformação para uma economia de baixo carbono vai dar mais competitividade às empresas porque esse é o caminho inevitável do mundo.
Na BT, o que me informou Donna Young, chefe do setor de mudança climática, é que a crise econômica não reduziu os investimentos na transformação da empresa para padrões de baixa emissão de carbono.
— Pelo contrário, poupamos muito dinheiro reduzindo viagens internacionais e fazendo teleconferência, por exemplo — disse.
Mesmo pessoas totalmente independentes do governo, como pesquisadores, professores, e organizações não-governamentais, que têm críticas ao governo, acham que o Reino Unido tem feito mais que outros países para cortar suas emissões. Levando-se em conta que foi o país que iniciou o problema, na primeira revolução industrial, eles até têm que estar à frente, mas há uma distância oceânica entre o nível de debate na Inglaterra e no Brasil. Em Londres, não se discute se deve haver a transição para um novo padrão.
Isso já está decidido.
Discutem-se os detalhes do caminho.
— Seja como for, a mudança climática está conosco e ficará nesta e na outra geração — ouvi, na City de Londres, de James Cameron, um empresário do setor.
Eu acho que o ponto fraco da política climática é considerar que o carvão é uma fonte de baixo carbono.
Para que isso aconteça é preciso desenvolver ainda a tecnologia de captura e estocagem de carbono, que é incerta e controversa.
A parede ao lado da escada que leva ao segundo andar da casa da Downing Street Número 10 é decorada com as fotos dos exprimeirosministros. Naquele mar de homens, há apenas um rosto de mulher.
O espaço está todo ocupado e eu fiquei pensando que será preciso rearranjar em breve para pôr a foto de Gordon Brown, quando ele sair do cargo. Talvez aconteça em maio do ano que vem. O novo ministro pode ser David Cameron, líder da oposição.
No cômodo onde Margaret Thatcher estudava — uma sala aconchegante, de boa iluminação natural, em dois ambientes — perguntei a um assessor de Brown o que acontecerá com a política climática se os conservadores ganharem a eleição.
Ele me disse que só detalhes mudam. Vão discutir se as eólicas devem ser na terra ou no mar. Mas todas as leis de mudança climática tiveram os votos da oposição. Para modernizar sua imagem, os conservadores tiveram que virar verdes. Porque ser verde significa, me disse o assessor, ser jovem, moderno, diferente do passado.
oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br
COM ALVARO GRIBEL
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