Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

O centro destrutivo Paul Krugman


The New York Times


Que termo você usaria para definir uma pessoa que eliminasse centenas de milhares de empregos norte-americanos, privasse milhões de pessoas de nutrição e de serviço de saúde adequados, enfraquecesse as escolas, mas oferecesse um bônus de US$ 15 mil para as pessoas que não fossem capazes de pagar as hipotecas de suas casas?

Um orgulhoso centrista. Pois foi isso que os senadores que modificaram o pacote de estímulo econômico acabaram de fazer.

Ainda que o plano original de Obama - cerca de US$ 800 bilhões em estímulos, sendo que uma fração substancial desta quantia destinar-se-ia a inefetivas reduções de impostos - tivesse sido implementado, ele não seria suficiente para tapar o enorme buraco na economia dos Estados Unidos, que o Departamento Congressual do Orçamento calcula que ultrapassará a cifra de US$ 2,9 trilhões nos próximos três anos.

Mas os centristas fizeram o melhor que puderam para tornar o plano pior e mais débil.

Uma das melhores características do plano original era o auxílio aos governos estaduais carentes de dinheiro, o que teria proporcionado um incentivo rápido à economia, preservando ao mesmo tempo os serviços essenciais. Mas os centristas insistiram em uma redução de US$ 40 bilhões nos gastos.

O plano original incluía também investimentos extremamente necessários na construção de escolas; US$ 16 bilhões destes gastos foram cortados. Ele incluía auxílio aos desempregados, especialmente ajuda para que estes continuassem tendo acesso aos serviços de saúde. Cortado. Cupons de alimentos. Cortado. Ao todo, mais de US$ 80 bilhões foram cortados do plano, sendo que a maior parte desses cortes incidiu precisamente sobre as medidas que mais contribuiriam para reduzir a profundidade da crise e o sofrimento provocado por ela.

Por outro lado, os centristas aparentemente não viram problema algum em uma das piores medidas contidas na proposta do Senado, um crédito tributário aos compradores de imóveis. Dean Baker, do Centro de Pesquisas de Políticas Econômicas chama isso de provisão "mande a conta da casa para o seu irmão": ela custará bastante dinheiro, mas não fará nada para ajudar a economia.

No fim das contas, a insistência dos centristas em confortar os confortáveis e afligir os aflitos, caso isso se reflita na legislação final, provocará um nível bem menor de emprego e uma quantidade de sofrimento substancialmente maior.

Mas como foi que isso aconteceu? Eu culpo o fato de o presidente Barack Obama acreditar ser capaz de transcender as divisões de natureza partidária - uma crença que distorceu a sua estratégia econômica.

Afinal, muita gente esperava que Obama apresentasse um plano de estímulo realmente vigoroso, refletindo tanto a situação precária da economia quanto a própria missão da qual foi incumbido pelo eleitorado.

Porém, em vez disso, ele ofereceu um plano que era nitidamente muito pequeno e demasiadamente dependente das reduções de impostos. Por que? Porque ele desejava que o plano contasse com amplo apoio bipartidário, e acreditava que isso aconteceria. Não faz muito tempo que os estrategistas do governo falavam em conquistar 80 ou mais votos no Senado.

Os desejos de natureza pós-partidária de Obama podem também explicar por que ele não fez uma coisa de importância crucial: falar energicamente sobre como os gastos do governo podem contribuir para o apoio da economia. Em vez disso, ele deixou que os conservadores definissem o debate, aguardando até a semana passada para finalmente dizer o que precisava ser dito - que o aumento dos gastos é exatamente o objetivo do plano.

E Obama não obteve nada em tropa dessa política bipartidária. Nenhum republicano votou na versão do plano de estímulo na Câmara, um plano que, aliás, era mais objetivo do que a proposta original do governo.

No Senado, os republicanos reclamaram contra "propostas eleitoreiras" - embora os desperdícios que eles alegaram ter identificado (grande parte dos quais era inteiramente justificada) representassem uma parcela trivial da soma total. E eles protestaram contra os custos do pacote - ainda que 36 dos 41 senadores republicanos tivessem votado a favor da substituição do plano de Obama por uma iniciativa para cortes de impostos no valor de US$ 3 trilhões - é isso mesmo, US$ 3 trilhões - em dez anos.

Assim, Obama foi obrigado pelos centristas a negociar. E os centristas, previsivelmente, cortaram uma parcela substancial do plano - não, até onde se pode dizer, com base em qualquer argumento econômico coerente, mas simplesmente para exibirem o "charme" centrista. Ele teriam provavelmente exigido um corte de uns US$ 100 bilhões de qualquer coisa que fosse apresentada por Obama. Ao apresentar uma proposta inicial tão reduzida, o presidente acabou garantindo que o acordo final fosse muito pequeno.

São esses os perigos de negociar consigo próprio.

Agora os negociadores da Câmara e do Senado precisam reconciliar as suas versões do pacote, e é possível que a versão final conserte as piores medidas dos centristas. E Obama poderia ser capaz de retornar para uma segunda rodada. Mas essa foi a sua melhor chance de tomar uma ação decisiva, e ele deixou muito a desejar.

Então, será que Obama aprendeu com essa experiência? As indicações iniciais não são boas.
Porque, em vez de reconhecer o fracasso da sua estratégia política e os danos à sua estratégia econômica, o presidente tentou colocar uma aura de felicidade pós-partidária nessa história toda. "Os democratas e os republicanos uniram-se no Senado e responderam apropriadamente à urgência exigida pelo momento", declarou ele no sábado. "E a escala e o objetivo desse plano são ideais".

Não, os parlamentares não se uniram e não responderam apropriadamente. E, não, a escala e o objetivo do plano não são ideais.



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