O GLOBO - 03\11
A CPI do Cachoeira nasceu de estratégia equivocada do ex-presidente Lula e de José Dirceu, na tentativa de, se não impedir, ao menos tumultuar o julgamento do mensalão no STF. Já que o adiamento para as calendas gregas não foi obtido com o assédio pessoal de Lula a ministros, dos quais o mais vistosamente frustrado foi a Gilmar Mendes, que denunciou a tentativa de chantageá-lo, partiram os petistas para montar uma CPI que colocaria a oposição contra a parede.
Os alvos principais eram os oposicionistas de maneira geral, o governador de Goiás, Marconi Perillo, em particular, o procuradorgeral da República, pelo atrevimento das acusações contra o PT, e a imprensa livre, representada pela revista “Veja”.
O rolo compressor governista, no entanto, não foi suficiente para fazer da CPI uma cortina de fumaça para o julgamento do mensalão, e políticos independentes impediram que a estratégia petista desse certo. Ao contrário, o feitiço voltou-se contra o feiticeiro, e o surgimento da empreiteira Delta com seus vínculos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira colocou o governismo numa sinuca de bico. Frustradas todas as investidas contra seus inimigos, viram- se os petistas na perspectiva de ser a CPI usada contra seus parceiros caso a investigação sobre o empreiteiro Fernando Cavendish fosse adiante. A CPI virou palco de uma batalha, fora do controle, até que oposição e situação viram que era melhor exterminá-la sem dar tempo para novos embates.
O GLOBO fez um levantamento nos 533 requerimentos que não serão votados e constatou uma “troca de chumbo” entre governistas e oposicionistas que poderia atingir a todos. A oposição propôs uma prorrogação da CPI por seis meses, mas a situação aprovou apenas até o fim do ano, mesmo assim sem nenhuma nova investigação.
Para o deputado Miro Teixeira, um dos líderes da ala independente, os dois lados queriam mesmo esse desfecho, só que alguns posam para a plateia defendendo maiores investigações, mas internamente trabalham pelo fim da CPI. Seria a “bancada do cancã”, que distrai o público com suas danças, na mordaz definição do parlamentar do Rio.
Tem razão Miro quando diz que de nada valeria dar sobrevida à CPI se não fosse para quebrar os sigilos de empresas-fantasmas do esquema de Cachoeira que receberam dinheiro da Delta. Mas essa quebra não interessava a governistas de vários matizes.
Peculiaridade da trama criminosa do bicheiro Cachoeira é que ela é pluripartidária, perfeitamente adaptada aos tempos pragmáticos de coalizões amplíssimas e sem nenhum nexo programático entre tais partidos abrigados pelo generoso guarda-chuva governista.
Cachoeira ia além e unia governistas e oposicionistas, sem distinção. O ex-senador Demóstenes Torres, expulso do DEM, e o governador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás, que deve ser indiciado pela CPI, são exemplos goianos desse multipartidarismo. Assim como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, representa o petismo e, se não for também indiciado, será devido à maioria esmagadora do governo na CPI.
O fato é que a construtora Delta tinha ramificações em todos os estados e por todos os partidos, sendo a mais notória ligação com o governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, que teve todo o apoio do governo federal para impedir que o sigilo da construtora fosse quebrado. A CPI do Cachoeira vai se encerrar sem nenhuma contribuição a dar e enviará os dados que recebeu sob sigilo ao Ministério Público, que investiga o esquema. Mesmo assim porque parlamentares independentes procuraram por conta própria o Ministério Público em Goiás para combinar a remessa desse material, para que não se perdesse.
Mais um fiasco a confirmar que o Congresso precisa se reciclar para não continuar com a imagem negativa que tem diante da opinião pública.
Um sinal de que a inflação está saindo do controle: alguns restaurantes e lojas já estão “dando descontos” se o pagamento é em dinheiro. No cartão de crédito, o freguês perde o “desconto”, isto é, a conta vem acrescida de cerca de 5%.
Entrevista:O Estado inteligente
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