Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 03, 2012

: Ajuste das construtoras - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 03\11

É um ciclo. Depois de um período de forte crescimento, as construtoras têm que arrumar a casa. O endividamento subiu, a mão de obra encareceu, houve estouro no orçamento e atraso nas obras. Por isso, nos próximos dois anos o setor pode encolher.

Mas a dinâmica da retomada pode vir do crédito mais barato, emprego forte e a demanda ainda não atendida.

Se o setor da construção residencial e comercial encolher um pouco, como preveem economistas e empresários, não deve ser por muito tempo. Mas há alguns problemas neste momento.

O endividamento das construtoras que têm ações em bolsa - 14 das principais empresas do setor - quadruplicou em quatro anos. Era de R$ 9 bilhões em 2008, é de R$ 36 bilhões atualmente. A dívida líquida era 25% do patrimônio líquido, hoje, é 85%.

Elas tomaram muito crédito, estão alavancadas. E captaram também no mercado acionário.

O presidente da MRV Engenharia, Rubens Menin, conta que o ciclo da construção civil é longo e muitas empresas esgotaram a capacidade de fazer dívidas. O crescimento acelerado esbarrou em gargalos, como a mão de obra. A receita não entrou no balanço no momento esperado. A ordem agora é: reduzir lançamentos, vender terrenos e fazer caixa.

- Há um problema de financiamento das construtoras.

O mercado acionário está fechado e o endividamento das empresas está elevado. A queda da Selic ajuda, mas ainda pode haver dois anos de encolhimento - admite Menin.

Os lançamentos estão em outro ritmo. No primeiro trimestre de 2011 foram R$ 16,7 bilhões lançados por estas 14 empresas que têm capital aberto.

No mesmo período de 2012, foram R$ 9,9 bilhões, ou seja, uma queda de 40%. Mesmo no Minha casa, Minha vida, programa destinado à baixa renda, com subsídio do governo, haverá queda nos lançamentos, de R$ 10,6 bi, para R$ 3,6 bi projetados para este ano.

Essa diminuição é definida na Cyrela como "período de ajuste".

O diretor de relações com investidores, José Florêncio Neto, disse que a empresa já esperava isso e reduziu a 50% o endividamento.

Mas ele acredita que o setor vai bem.

- Não podemos esquecer os fundamentos.

Há ainda uma demanda grande por imóveis, a confiança dos consumidores continua elevada, o crédito ficou mais barato e o desemprego continua baixo. Tudo isso ajuda - disse.

Os consumidores estão mais atentos, demoram mais a tomar decisão, as visitações aumentaram, numa prova dessa cautela do comprador. Um prédio residencial com 100 apartamentos vendia 65 em um ano, hoje vende 50. Isso é visto como sinal de amadurecimento.

Melhor um pequeno esfriamento do que crescimento desordenado que leve à bolha. Na bolsa, o setor está com queda de 17% este ano, mas com diferenças de performance. A MRV chegou a cair 20%, agora está em alta. A Cyrela está com alta de 21%. A Gafisa cai 10%, e a PDG está com queda forte, de quase 40%.

A venda de material de construção cresce pouco, apenas 1,3% até setembro, segundo dados da Abramat.

O dado reforça a tese do esfriamento, porque o setor vinha crescendo fortemente nos últimos anos e tinha previsões bem mais otimistas para este ano.

O presidente da entidade, Walter Cover, já está revendo para baixo a previsão do crescimento.

Há quem esteja preocupado com o grau de endividamento das empresas e com a queda da demanda.

Algumas construtoras, além de se alavancarem, compraram terrenos na expectativa de que o ritmo de lançamentos continuasse o mesmo. Mas a avaliação mais comum é que o mercado está encolhendo para se ajustar e depois voltar ao ritmo de alta.

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