Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 09, 2012

Bill Clinton merece os aplausos - CARLOS ALBERTO SARDENBERG



O Globo - 08/11


Sucesso mesmo nessa eleição americana foi Bill Clinton. Principal cabo eleitoral de Obama, o ex-presidente passeou pela campanha, celebrado em toda parte. O povo não esquece.

Reparem: concluídos os quatros anos de Obama, a economia terá criado pouco mais de 500 mil empregos, isso em relação ao verificado no início de seu mandato. Seu antecessor, Bush, deixou um legado de 1 milhão de novos postos de trabalho, mas em dois mandatos. E Clinton, o antecessor de Bush? Nada menos que 22 milhões de empregos nos seus oito anos.

Compreende-se por que ele se reelegeu, mesmo com o caso Monica Lewinski. E os eleitores não se arrependeram de dar um segundo mandato. Em 2000, último ano de Clinton, a taxa de desemprego foi de 3,9%, um recorde de baixa.

Os investidores também gostaram muito. Em janeiro de 1993, quando Clinton assumiu, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York rodava na casa dos 3.200 pontos. Oito anos depois, batia nos 11.500.

Muitos dizem que Clinton apenas deu sorte. O ciclo de crescimento seria o mesmo qualquer que fosse o presidente. Será? O fato é que aquele presidente democrata foi bastante ativo em sua política econômica, a chamada "clintonomics". Tratava-se de uma interessante combinação de austeridade nas contas públicas, liberalização na atividades das empresas, desregulação, inclusive do sistema financeiro, abertura comercial - temas do que se chamaria de uma agenda conservadora - com programas sociais diversos, aumento do salário mínimo, alíquotas maiores de imposto de renda para os mais ricos, isenções para os mais pobres - a agenda progressista.

Resultados: crescimento do Produto Interno Bruto e da renda, inflação média anual de 2,3%, outro recorde de baixa, e a transformação de um déficit nas contas públicas de 4,7% do PIB, herança do governo do primeiro Bush, em um superávit de 2,4%, que o segundo Bush destruiu em pouco tempo.

Houve também um lance especial, o estímulo à compra de casa própria. Clinton determinou que as agências estatais Fannie Mae e Fredie Mac reduzissem as taxas de juros e ampliassem os financiamentos imobiliários, em condições vantajosas, para as classes médias e mais pobres. Deu no maior boom da construção civil, deixando todo mundo feliz.

Mas com isso, dizem os críticos, ajudou a inflar a bolha imobiliária, que fez crescer outras bolhas, nas bolsas, por exemplo. Ou seja, juros muito baixos, crédito abundante e bancos desregulados para montarem suas alavancagens, tudo isso teria lançado as sementes da grande crise financeira de 2008.

Pessoal do Clinton nega, é claro. Diz que Bush estragou tudo com seus gastos militares, em duas guerras equivocadas, e isenções de impostos para os ricos, entre outros equívocos. Fica para o futuro decidir, mas que Clinton tem uma bela história para contar, disso não há dúvida.

A situação é bem diferente hoje. Obama foi o primeiro presidente a se reeleger com uma taxa de desemprego nas alturas, 7,9%, e com baixo ritmo de crescimento econômico.

Parece, entretanto, que parte dos eleitores, mais ou menos a metade, entendeu as circunstâncias. No primeiro mês do governo Obama, janeiro de 2009, a economia eliminou nada menos que 818 mil empregos - desastre que necessariamente vai para a conta do segundo Bush. Já no último mês de outubro, foram criados 171 mil postos de trabalho. Há 18 meses, a média mensal é de 160 mil novas vagas, o que dá 1,92 milhão/ano.

Isso ainda fica longe do padrão Clinton, mas em circunstâncias completamente diferentes. Mais do que acelerar o crescimento, a primeira tarefa de Obama era evitar o pior, que a crise financeira de 2008 caísse numa fatal depressão nos EUA e, pois, no mundo. E isso ele conseguiu. Depois de uma recessão de 3,1% em 2009, a economia americana se expandiu na média de 2% nos últimos três anos. Não é extraordinário, mas entre os países desenvolvidos, só a Alemanha fez melhor.

Muitos analistas entendem que a recuperação americana está em curso e que não será difícil a criação de 10 milhões de empregos nos próximos quatros anos. Nesse aspecto ao menos, o resultado nos EUA foi justo. Obama ganhou um tempo para arrematar o serviço, em ambiente melhor ou menos ruim.

Aliás, boa parte desse ambiente depende da China, a segunda potência econômica. Lá, hoje, se inicia o congresso do Partido Comunista, que promoverá uma completa troca de governo. E, acredita-se, uma mudança no modelo econômico. Somando EUA (PIB de US$ 15,2 trilhões) e China (US$ 7,5 tri) dá quase 30% da economia mundial. Ou seja, o interesse é global. Aliás, os dois principais parceiros comerciais do Brasil são China e EUA.

Arquivo do blog