Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 22, 2012

China vai crescer - ALBERTO TAMER

O Estado de S.Paulo - 22/11


A liderança na China vai encontrar um PIB em recuperação após dois trimestres de recuo, e não deve mudar a política econômica porque seus novos desafios, além da corrupção, são sociais, emprego, salário, que só se enfrentam de forma eficaz com mais crescimento. A política econômica deu certo, o valor do PIB passou de US$1,5 trilhão em 2002 para US$ 8,3 trilhões. Com sinais de tensão social aumentando e reações populares contidas pelo governo, como no caso das manifestações em favor a Primavera Árabe, o caminho é crescer.

Em comunicado oficial, o Partido Comunista chinês afirmou que vai "insistir na decisão de avançar firmemente, prestaremos mais atenção em manter um crescimento constante." "O Produto Interno Bruto (PIB) da China deve ultrapassar 8% no próximo ano devido ao aumento do crescimento doméstico", disse Lu Zhongyuan, vice-diretor do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado, no ultimo domingo.

Ásia ajuda. Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, não só a economia chinesa, mas a dos outros países do Sudeste Asiático deve crescer mais, impedindo um PIB mundial menor. A estimativa é de pelo menos 6,3% em 2013 e nos próximos cinco anos.

Os emergentes asiáticos não enfrentam os mesmos desafios de déficits fiscais e um endividamento elevado, como os Estados Unidos e a Europa. E estão adotando a política recomendada pelo G-20, de aumentar investimentos e gastos e estímulos e não austeridade para equilibrar a desaceleração mundial.

Brasil beneficiado. A retomada de um crescimento sustentado na China é importante para o Brasil porque esse é, na verdade, um dos únicos mercados em expansão comercial. As exportações se baseiam em commodities, principalmente alimentos que se retraem nos países em crise e se expandem para a China. Ela adotou uma novo modelo de crescimento, voltado para o aumento da demanda interna, o que implica em mais consumo de alimentos. É o que mostra, por exemplo, a colega Raquel Landim, em matéria da última segunda-feira. A China já se tornou praticamente a principal importadora de produtos agrícolas. De tudo o que exportamos nesse setor no primeiro semestre, 24,3% foi para a China. (Para a União Europeia, 24,6%). Em 2008 a participação era de apenas 11,5%, informa o estudo do Conselho Empresarial Brasil-China. O comércio agrícola entre os dois países duplicou em três anos, passando de US$ 8 bilhões em 2008 para US$ 18 bilhões no ano passado. Há uma distorção, quase tudo é soja, 66,7%, seguido de açúcar e pasta de madeira. Essa dependência de um país e um produto preocupa, mas mais grave se o novo governo chinês não reafirmasse a política de continuar crescendo via aumento do consumo. Não se pode contar nem com a União Europeia nem com os Estados Unidos

Outra frente. Outra frente que a China apresenta, tema da Conferência Internacional do Conselho Empresarial Brasil-China, realizada ontem em S.Paulo, são as oportunidades de investimentos chineses no País. Estima-se 60 projetos de empresas chinesas interessadas em investir no país. Muitos foram anunciados entre 2007 e junho de 2012 de valores acima de US$ 50 milhões, diz o Cebec, dos quais 65% estariam confirmados. Isso somaria em tese cerca de US$ 24 bilhões. De quando até quando? Não se sabe. Há muito otimismo nesses números. Segundo o Banco Central, o estoque de investimentos chinês passou de US$ 8,5 bilhões para US$ 10,4 bilhões (considerando empresas chinesas em outros países). A maior parte, já conhecida, 66%, está em petróleo e gás mineral, extração de minerais metálicos (17%) e, o que é novo, 17% em serviços financeiros, um campo que se abre agora, diz Sergio Amaral, presidente do Cebec. Na verdade, de tudo o que as empresas chinesas anunciaram, há muito está ainda que pode ser investido no país.

E surgem questões delicadas como a reação do Brasil à agressividade comercial chinesa no mercado interno e as medidas de defesa adotadas pelo governo brasileiro para proteger sua indústria. E isso sem contar a questão agrícola. Os chineses querem comprar grandes extensões de terras para produzir soja e outros produtos dos quais são grandes consumidores no Brasil. Para a Confederação Nacional da Agricultura, estamos perdendo investimentos nessa área já que não podemos atender a toda demanda chinesa. Para a indústria, essas concessões não podem ser feitas enquanto a China continuar exportando mais 70% de produtos manufaturados a preços reduzidos favorecidos por custos aviltados e pelo protecionismo e importando commodities e alimentos.

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