O Estado de S.Paulo - 20/11
Um dos princípios mais fortemente questionados nesta crise econômica global é a suposta separação entre a política de juros (política monetária, a cargo dos bancos centrais) e a de gastos públicos (política fiscal, sob incumbência dos Tesouros nacionais).
Cada vez mais os bancos centrais vêm executando políticas com objetivos fiscais, para compensar o que os Tesouros nacionais não conseguem fazer. Quando, por exemplo, emitem enormes volumes de moeda, os bancos centrais concorrem para forte redução dos juros. Com juros insignificantes, os custos de rolagem das enormes dívidas dos países avançados ficam mais baixos. Ou seja, ao derrubá-los a níveis próximos de zero ao ano, os bancos centrais de países altamente endividados atuam para impedir o colapso fiscal imediato dos respectivos Tesouros nacionais.
No entanto, a política monetária não se limita a manter o volume de moeda em patamares elevados, de maneira que os juros básicos fiquem muito próximos de zero. Algumas operações monetárias estão sendo ativadas para recomprar títulos públicos com a intenção de achatar mais o custo das dívidas carregadas pelos Tesouros nacionais.
É o que está fazendo o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) ao recomprar, como vem fazendo agora, US$ 40 bilhões por mês em títulos do Tesouro americano. Com o mesmo objetivo, em setembro, o Banco Central Europeu, por sua vez, criou as operações de Transações Monetárias Diretas (OMT, na sigla em inglês).
Essa atuação monetária de natureza fiscal não se restringe aos grandes bancos centrais. Ontem, por exemplo, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, em entrevista à Globo News, avisou que, em 2013, o Tesouro brasileiro deixará de pagar entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões apenas em juros da dívida pública. Essa economia se tornou possível graças à política do Banco Central do Brasil, que, em pouco mais de um ano, derrubou os juros básicos (Selic) de 12,50% para os atuais 7,25% ao ano.
Na verdade, Mantega não está dizendo só isso. Está tentando justificar a forte elevação de despesas públicas com a compensação de menores dispêndios com juros. E não é bem assim. Esse tipo de economia nem sempre tem impacto imediato relevante no caixa do Tesouro, porque os custos com juros não são desembolsados imediatamente; são incorporados ao principal da dívida, ou seja, são transformados em dívidas que só vão pagar juros lá na frente.
Tanto para a presidente Dilma Rousseff como para o ministro Mantega, a atuação de natureza fiscal dos grandes bancos centrais produz efeitos colaterais adversos. Despeja moeda estrangeira em excesso no câmbio dos países emergentes - fator que encarece excessivamente seu produto e provoca distorções no comércio exterior. É o que a presidente vem chamando de tsunami monetário e o ministro Mantega, de guerra cambial.
No entanto, muito provavelmente a consequência mais perversa das políticas expansionistas dos bancos centrais dos países avançados é o amortecimento da crise. Se, de um lado, evitam naufrágios espetaculares, de outro, prolongam indefinidamente a agonia. Assim, o ajuste vai sendo adiado, com custos provavelmente mais altos.
O Estado de S.Paulo - 20/11
Um dos princípios mais fortemente questionados nesta crise econômica global é a suposta separação entre a política de juros (política monetária, a cargo dos bancos centrais) e a de gastos públicos (política fiscal, sob incumbência dos Tesouros nacionais).
Cada vez mais os bancos centrais vêm executando políticas com objetivos fiscais, para compensar o que os Tesouros nacionais não conseguem fazer. Quando, por exemplo, emitem enormes volumes de moeda, os bancos centrais concorrem para forte redução dos juros. Com juros insignificantes, os custos de rolagem das enormes dívidas dos países avançados ficam mais baixos. Ou seja, ao derrubá-los a níveis próximos de zero ao ano, os bancos centrais de países altamente endividados atuam para impedir o colapso fiscal imediato dos respectivos Tesouros nacionais.
No entanto, a política monetária não se limita a manter o volume de moeda em patamares elevados, de maneira que os juros básicos fiquem muito próximos de zero. Algumas operações monetárias estão sendo ativadas para recomprar títulos públicos com a intenção de achatar mais o custo das dívidas carregadas pelos Tesouros nacionais.
É o que está fazendo o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) ao recomprar, como vem fazendo agora, US$ 40 bilhões por mês em títulos do Tesouro americano. Com o mesmo objetivo, em setembro, o Banco Central Europeu, por sua vez, criou as operações de Transações Monetárias Diretas (OMT, na sigla em inglês).
Essa atuação monetária de natureza fiscal não se restringe aos grandes bancos centrais. Ontem, por exemplo, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, em entrevista à Globo News, avisou que, em 2013, o Tesouro brasileiro deixará de pagar entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões apenas em juros da dívida pública. Essa economia se tornou possível graças à política do Banco Central do Brasil, que, em pouco mais de um ano, derrubou os juros básicos (Selic) de 12,50% para os atuais 7,25% ao ano.
Na verdade, Mantega não está dizendo só isso. Está tentando justificar a forte elevação de despesas públicas com a compensação de menores dispêndios com juros. E não é bem assim. Esse tipo de economia nem sempre tem impacto imediato relevante no caixa do Tesouro, porque os custos com juros não são desembolsados imediatamente; são incorporados ao principal da dívida, ou seja, são transformados em dívidas que só vão pagar juros lá na frente.
Tanto para a presidente Dilma Rousseff como para o ministro Mantega, a atuação de natureza fiscal dos grandes bancos centrais produz efeitos colaterais adversos. Despeja moeda estrangeira em excesso no câmbio dos países emergentes - fator que encarece excessivamente seu produto e provoca distorções no comércio exterior. É o que a presidente vem chamando de tsunami monetário e o ministro Mantega, de guerra cambial.
No entanto, muito provavelmente a consequência mais perversa das políticas expansionistas dos bancos centrais dos países avançados é o amortecimento da crise. Se, de um lado, evitam naufrágios espetaculares, de outro, prolongam indefinidamente a agonia. Assim, o ajuste vai sendo adiado, com custos provavelmente mais altos.