O GLOBO - 30/11
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
De 1º de janeiro a 26 de novembro, o governo federal investiu só 18% do que está previsto no Orçamento deste ano. A cifra é pequena, R$ 16 bilhões, o que corresponde a 0,4% do PIB. Hoje, o IBGE divulga quanto a economia cresceu no terceiro trimestre. O PIB nesse período será o mais forte em mais de um ano, mas os investimentos devem cair novamente.
A informação dos investimentos está no sistema Siga Brasil, do Senado Federal, e foi coletada pelo economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria. O investimento total previsto no Orçamento de 2012 é R$ 90 bi, cerca de 2,25% do PIB. Para efeito de comparação, o governo gasta 12% do PIB com o pagamento de aposentados e pensionistas públicos e privados. Ou seja, mesmo se conseguisse investir tudo, ainda seria pouco.
- O governo Dilma tem o mérito de ter aumentado a participação dos investimentos no Orçamento. Chegou a R$ 90 bilhões. Isso aconteceu porque ela conteve gastos de custeio, adiou reajustes de servidores. Mas o governo não consegue gerenciar os investimentos e executá-los - explicou Salto.
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore avalia que a política econômica continua estimulando o consumo, sem conseguir destravar os investimentos do setor privado. Os problemas da indústria continuam e, para piorar, as ações de vários setores caíram como resultado das políticas do governo. Ao perder valor de mercado, as empresas ficam com menor margem para fazer dívidas e, consequentemente, investir:
- Há um conjunto grande de incertezas. O mercado de capitais está sendo mal tratado. A Petrobras foi capitalizada, mas fica impedida de reajustar o preço da gasolina. Criou-se uma briga com os bancos e isso jogou as ações para baixo. A mesma coisa aconteceu no setor de energia. Estamos aumentando os riscos aqui dentro. Ao fazer isso, não dá para esperar milagres, o investimento sofre.
Ele estima que entre julho e setembro o PIB deve ter crescido 1,1% em relação ao segundo trimestre. Desde o quatro tri de 2010 o Brasil não cresce tanto.
- O dado vai certamente confirmar expansão forte do consumo das famílias, um PIB da indústria medíocre e queda da taxa de investimento em proporção ao PIB - explica o economista.
Pastore vê com cautela os últimos três meses do ano. Acha que haverá desaceleração.
PIB e inflação
O ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore prevê alta de 1,5% para o PIB deste ano e inflação de 5,5%. Em 2013, ele acha que o dado de crescimento será um pouco melhor do que o deste ano, mas ainda abaixo de 4%. E o IPCA, segundo ele, mais uma vez ficará distante do centro da meta. Deve repetir os 5,5% de 2012.
Olho no crédito e na inadimplência
A inadimplência dos consumidores insiste em não cair. Ficou em 7,9% em outubro, pelo quarto mês seguido. Em janeiro deste ano, estava em 7,6% e, no início de 2011, em 5,7%. O chamado crédito podre (dívidas com atraso acima de 180 dias) cresceu 1,6% de setembro para outubro e soma R$ 76 bi. Em 12 meses, a alta é de 19,7%. O estoque total de crédito chegou a 51,9% do PIB, com crescimento de 16,5% em 12 meses.
O custo com reprovação e evasão
Os economistas do Ibre/FGV fizeram as contas: o custo público anual com reprovação e abandono escolar na educação básica caiu para R$ 20,3 bi no último biênio, depois de ter chegado a R$ 22,7 bi em 2009. No período entre 2005 e 2011, o crescimento desse custo foi de 11%. Em termos do PIB, no entanto, houve redução. Mas essa queda, segundo os responsáveis pelo estudo, os economistas Rodrigo Leandro de Moura e Gabriel Leal de Barros, é fruto mais da expansão do crescimento econômico do que da eficácia do investimento.
QUEM PAGA A CONTA. A carga tributária bateu novo recorde em 2011, segundo a Receita Federal. Subiu de 33,5% do PIB, em 2010, para 35,3%. Isso quer dizer que de cada R$ 100 produzidos na economia brasileira, R$ 35 foram para os governos federal, estadual e municipal.
DESCE E SOBE. O IGP-M recuou 0,03% em novembro, depois de ter subido 0,02% em outubro. Com isso, o acumulado em 12 meses caiu de 8,07% para 6,96%. Deve fechar 2012 em torno de 7,4%.