O GLOBO - 23/11
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Os alimentos começam a perder força na inflação. Já estavam em queda no atacado e, agora, a desaceleração chega ao varejo, como mostrou o IPCA-15. O grupo alimentação e bebidas saiu de uma alta de 1,56%, em outubro, para 0,83%, em novembro. Subiu, mas menos. Ainda assim, a inflação como um todo ficou mais distante do centro da meta: foi de 5,56% para 5,64%, em 12 meses.
Depois de bater em 7,1% em setembro do ano passado, a inflação começou a cair, mas não voltou ao centro da meta de 4,5%. Chegou na mínima de 5%, em junho, e logo voltou a subir. Em novembro, acelerou para 5,64% no IPCA-15, que é uma espécie de prévia do IPCA, a taxa oficial. A diferença entre os dois é o período de coleta. Um no início do mês, outro, no meio.
A inflação de alimentos em 12 meses sobe mais de 10% até novembro. Mas há vários grupos com altas fortes. Artigos de educação, por exemplo, subiram 7,62%. As despesas pessoais ficaram 9% mais caras. Peças de vestuário subiram 6,91%.
A inflação de serviços preocupa porque contamina outros preços. Continua rodando a casa de 8%. Pressiona, inclusive, a alimentação e é fácil entender o motivo: torna o custo dos restaurantes, por exemplo, mais alto. Isso aconteceu de outubro para novembro. Enquanto a alimentação em domicílio perdeu força, foi de 1,9% para 0,5%; os preços para quem come fora aceleraram, de 0,7% para 1,2%.
— O aluguel e a mão de obra têm pressionado a alimentação fora de casa — explicou o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.
Os combustíveis ficaram 1,15% mais baratos em 12 meses. A gasolina caiu de preço 0,51%. Isso quer dizer que a inflação estaria mais distante do centro da meta se não fosse o subsídio ao combustível fóssil. A Petrobras tem importado gasolina a um preço mais alto do que vende no Brasil. Essa diferença é prejuízo para a empresa, que tem um cronograma pesado de investimentos. Esses recursos farão falta. Ao mesmo tempo, a indústria do etanol — o combustível limpo — fica estrangulada, porque não consegue competir com a gasolina.
Pode parecer bom segurar o preço da gasolina para que a inflação não suba. Mas isso traz várias outras consequências. O barato pode sair caro.
Perto do teto, distante do centro
Para entender por que a inflação tem preocupado os economistas, basta olhar para o gráfico abaixo. Ela caiu bastante, mas não chegou ao centro da meta de 4,5%. Nos últimos meses, voltou a subir, apesar do baixo crescimento do PIB.
A demografia e o baixo desemprego
O professor José Pastore, da USP, especialista em mercado de trabalho, tem boas explicações para a baixa taxa de desemprego, mesmo com o esfriamento da economia. A população está envelhecendo e menos jovens entram no mercado de trabalho. Eles também estão estudando mais e isso retarda a busca por vagas. Na outra ponta, as condições para a aposentadoria estão favoráveis. Além disso, explica, há muita oferta de trabalho nos setores de serviço e comércio. A combinação disso tudo explica o desemprego em nível historicamente baixo. Em outubro, caiu para 5,3%.