O Estado de S.Paulo - 09/11
Há dois grupos de crítica às políticas de ajuste aos desequilíbrios globais. Há os que criticam as políticas fiscais dolorosas demais. E há os que criticam as políticas monetárias expansionistas demais.
As duas análises são antagônicas, porque não há como fugir de um ajuste que cobre ou o seu preço fiscal ou o seu preço monetário - ou uma combinação de ambos.
O governo brasileiro, por exemplo, não sabe o que recomenda. Às vezes, tanto a presidente Dilma Rousseff como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, condenam as políticas fiscais dos países avançados, por produzirem contração do sistema produtivo (queda do PIB), desemprego e diminuição de encomendas no mundo inteiro. Outras vezes, desaprovam as políticas monetárias desses mesmos países, considerando-as flácidas demais, feitas à custa de farta emissão de moeda que em seguida vazará para os mercados de câmbio dos países emergentes. É o que a presidente Dilma chama detsunami monetário e o ministro Mantega, de guerra cambial.
Não há como fugir desse dilema. Ou as autoridades enfrentam uma crise com terapêuticas fiscais (austeridade no manejo das contas públicas e derrubada das dívidas) ou com enormes emissões de moeda, que tanto têm a possibilidade de transbordar para os países emergentes e inundá-los, como podem se transformar em bomba de retardamento e inflação.
É verdade que uma opção seria o estímulo a investimentos (receita keynesiana). Mas, para isso, os governos teriam de ter acesso a capitais de baixo custo que não provocassem inflação. Desta vez, não dá para recorrer a um mecanismos desse tipo porque os capitais não existem ou não estão disponíveis. Ou, então, não são mobilizáveis, porque seus detentores não querem correr os riscos da recessão e da enorme volatilidade dos mercados.
Um jeito de superar o dilema seria prover novos arranjos nas despesas públicas. É exatamente o que entrou na grande agenda política do governo dos Estados Unidos que, agora, terão de renegociar um novo pacto na administração das contas públicas - que aterre o abismo fiscal que entrará em vigor em janeiro ou construa uma ponte sobre ele.
Essa necessidade de ajuste fiscal na Europa foi também um dos assuntos tratados pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, no seu pronunciamento de ontem, após a decisão que manteve os juros básicos em 0,75% ao ano. Ele reafirmou que uma resposta fiscal firme e crível seria fator importante na recuperação da confiança, portanto, de superação da crise.
Aqui no Brasil, o governo Dilma enfrenta novas contradições. Construiu seu mix de política econômica de maneira tal que uma sólida administração das contas públicas abrisse caminho para redução dos juros e para a desvalorização do real (alta do dólar), esta última para elevar a competitividade do setor produtivo. No entanto, ao longo deste ano, o governo federal roeu essa corda e os demais fundamentos perderam firmeza. O superávit primário (sobra de receita para pagamento da dívida) foi flexibilizado. O governo gastou muito mais do que deveria em proporção da arrecadação. E, por isso, a inflação ficou mais solta e o crescimento econômico será a decepção já anunciada.